domingo, 27 de outubro de 2013

Cuidado com gente velha!

Hoje à tarde, em minha curta sessão diária que eu chamo de “nutrição intelectual” assisti a um trecho de uma palestra do grande educador e filósofo Mário Sérgio Cortella. A frase do título deste artigo é dele.
Cuidado com os velhos sim, e muito. Como disse Benjamin Franklin, tem gente que morre aos 25 mas só é enterrado aos 75. Isso é gente velha. Tem jovem velho, adulto velho, tem até idoso velho.
Tive um tio avô emprestado – casado com a irmã de meu avô- chamado Caetano. Era dentista prático; pra quem não sabe o que é isto, antigamente as pessoas exerciam profissões sem necessariamente fazerem uma faculdade. Até onde sei, era um ótimo dentista.
Mas tio Caetano não era singular por isso, nem pelo fato de ser extremamente carinhoso com as crianças. Ele era singular porque contava sempre muitas histórias divertidas; e sempre as contava porque VIVIA a vida, ao invés de apenas existir, como faz muita gente aqui sobre a terra.
Sempre à tarde, logo após o almoço, me lembro de começar a escutar o barulho. Era o tio Caetano aprendendo a tocar algum instrumento; o último de que me lembro era o acordeom. Através dele conheci o molinete, que eu chamava de “vara de pescar chique”, e um tanto de outros apetrechos e instrumentos musicais diferentes e engraçados. Como era um homem bem de vida financeiramente, quando parou de praticar a odontologia dividia sua vida entre ser gentil com as pessoas e, segundo alguns velhos com menos idade que ele, “inventar moda”. Ele não inventava moda, inventava vida.
O motivo de o tio Caetano ter esta disposição toda pra sempre aparecer com alguma novidade musical, pesqueira, aérea, esportiva e o que mais desse na cuca, não era a vitalidade. Eram a disponibilidade de aprender e a vontade de sorver o novo. E toda a vitalidade que se observava – era um homem vigoroso, mesmo já com mais idade – advinha justamente do fato de ele jamais achar que já sabia o suficiente, e de sempre estar interessado em coisas novas.
O Cortella, do qual falei acima, escreveu um livro chamado “Nós não nascemos prontos”. Umas das coisas interessantes que ele diz no livro é que nós não envelhecemos. O que envelhece é fogão, que nasce pronto e vai se desgastando com o tempo. Nós nascemos quase como uma folha em branco e vamos nos construindo ao longo da vida. Só que muita gente para no reboco, e depois ainda vem reclamar que nada fica pronto na vida.
Uma das posturas mais saudáveis que um ser humano pode ter em sua existência é estar sempre aberto ao novo. E ser aberto ao novo implica em ser humilde perante a grandiosidade da vida. Porque humildade é “saber que não sabe” e estar disposto a aprender. Para crescer, para pertencer, para educar, para amar e para viver, é preciso ser, antes de tudo, humilde. Tolo não é aquele que tem dúvidas, tolo é aquele que só tem certezas. E burro é aquele que desiste de aprender o novo.
Cuidado com o “mesmo”, com a preguiça mental, com o refestelar-se sobre o próprio conhecimento. Tem gente  que olha para o futuro e tudo que enxerga é um passado. Gente que faz e fará sempre, nos mesmos lugares e do mesmo jeito, as mesmas coisas que sempre fez. Gente velha.
Tio Caetano, por uma ironia cruel do destino, faleceu por volta de 80 anos – mais forte do que eu e você -atingido por uma motocicleta guiada por um irresponsável qualquer que, como tantos em nosso país, atravessou o sinal vermelho em sua pressa desgovernada.
Hoje em dia  não se houve mais acordeom na casa da minha avó depois do almoço, mas na vida de todos aqueles que sabem observar com benevolência e inteligência, ainda ecoa o exemplo de que ser jovem e vigoroso é uma questão de atitude, de abertura e de humildade intelectual perante a imensa riqueza que a vida tem a nos oferecer. Basta abaixarmos o orgulho, o comodismo, nos desfazermos da mesmice e estendermos as mãos para encontrar o novo.
Agarre a vida!

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