sábado, 19 de outubro de 2013

Com quem você pensa que está falando?

por-que-chefes-arrogantes-sao-prejudiciaisQuando eu era adolescente e vivia no interior de Minas Gerais, costumava frequentar eventualmente uma boate da cidade, nestas matinês de domingo à noite que deixam as mães se perguntando o que afinal teriam feito de errado para que não preferíssemos estar em casa em vez de nos entupirmos de bebida ouvindo música estranha.
Numa ocasião destas, em que a fila quase rodava o quarteirão e a meninada já estava pra lá de impaciente, vi surgindo do outro lado da rua o sujeito. Todo engomado, sapato engraxado e cordão de ouro pra fora da camisa (deveria haver leis contra isso) caminhando como se estivesse em um videoclipe do Bon Jovi. Sem mais nem menos passou por todos na fila, chegou avançando pra cima do segurança e quando foi educadamente detido rosnou com a delicadeza de um acéfalo: Você sabe com quem está falando?!
O final desta história bem que podia nos lavar a alma, com o indivíduo sendo solenemente ignorado e tirado da fila. Mas não, infelizmente após esta pergunta, o segurança intimidado perguntou se ele conhecia “alguém da casa” e depois de 30 segundos de blá bla blá na escuta do walk talk  o rapaz entrou. Eu fiquei na fila junto com mais uns cinquenta. Há quem pense que o coronelismo acabou no país.
O que dizer a si mesmo quando se vê uma coisas destas? O que pensar quando alguém para um carro de oitenta mil reais no sinal de trânsito e despeja no asfalto papelão, guardanapos e copos de refrigerante de um lanche fast food que acabou de comer? O que sentir ao perceber um agente público parando o carro numa vaga destinada a idosos só porque provavelmente não será multado?
Brasileiro tem fama de gentil pelo mundo afora. Só se for com os gringos. Porque aqui, entre nós mesmos, infelizmente o que ainda vejo é gente que por ter dinheiro, por ter posição social ou – pasmem- por ter mais “educação”, pensar que é absolutamente normal ter certos privilégios.
Não é preciso que seja dita abertamente a frase do título deste artigo para que fique evidente a miséria ética e intelectual de alguns companheiros de espécie nossos.
Toda vez que um político fura uma fila para embarcar num avião, que um playboy avança um sinal vermelho em alta velocidade, que um “bacana” usa sua influência para passar na frente de todos ou que qualquer um use de qualquer tipo de poder, velado ou não, para ignorar, subjugar, sacanear ou desdenhar dos usos e costumes a que todos estamos sujeitos, é como se gritassem a plenos pulmões: Com quem você pensa que está falando?!?!
Quando menciono que trabalho com Educação Comportamental algumas pessoas me olham tentando entender se eu sou algum tipo de professor de psicologia ou se faço reabilitação de pessoas que sofreram problemas traumáticos na vida. Então eu explico que o que faço é  procurar criar um mundo melhor influenciando o comportamento das pessoas. E sem dúvida uma condição para que isso dê certo é a capacidade de desenvolver o amor por quem precisa ser ajudado.
Gente que faz os absurdos que compartilhei aqui não precisa da nossa raiva ou de nossa indignação. Precisa de um pouco de piedade, isso sim, e de muita, muita ajuda.
No que me acabe ajudar, tento fazê-lo através das palavras e da instigação do pensamento, gerando reflexão através de uma palestra, de um processo de coaching, ou quando escrevo um simples e bobo ensaio destes na expectativa de que possa cair nas mãos de quem se importe com o tema.
Na expectativa de que uma mãe, um pai, um educador ou quem quer que seja, possa receber e repassar aos que estão ao seu redor a mensagem de que a terra tem 4,5 bilhões de anos, o mundo tem cerca de 7 bilhões de habitantes, e que absolutamente ninguém é maior ou melhor do que qualquer um pelo simples fato de ter mais dinheiro, influência, poder ou conhecimento dos que estão ao seu redor.
Como disse  o escritor Thomas Carlyle: “O grande homem demonstra a sua grandeza com a maneira pela qual trata os pequenos”.
Demonstremos.

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