sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Doenças no trabalho: melhor prevenir

por Arthur Chioramital e Thalita Battistin

Dor nos olhos, cansaço, irritabilidade... O publicitário Diego Dias de Lima passou por todas essas fases quando pegou conjuntivite de uma colega de trabalho que, apesar de claramente precisar de cuidados médicos, foi orientada por seus gestores a terminar sua jornada de trabalho. Resultado: Dias e outros quatro funcionários foram contaminados. Todos ficaram impossibilitados de trabalhar por vários dias. Os afastamentos poderiam ter sido evitados caso a empresa orientasse seus líderes a colocar a segurança e o bem-estar dos colaboradores em primeiro lugar. A boa notícia é que esse caso tende a ser uma exceção à regra. Cada vez mais companhias investem em programas de saúde ou de qualidade de vida e reduzem substancialmente os riscos a que estão expostas suas equipes.

É o caso da Eternit. A empresa promove ações de saúde ocupacional, como medicina preventiva, ginástica laboral e campanhas de vacinação, desde a admissão do funcionário. Segundo o gerente de Saúde Ocupacional da Eternit, o médico Milton do Nascimento, a adesão dos colaboradores, em alguns casos, como o da vacinação contra gripe, é superior a 90%, mesmo sendo essa indicada somente para maiores de 60 anos. “Mostrar preocupação com a saúde do trabalhador fortalece a relação da empresa com o colaborador”, diz Nascimento.

A Sabesp é outro exemplo de organização que desenvolve programas de prevenção de doenças para seus colaboradores. O departamento de RH realiza, periodicamente, em seus cerca de 500 estabelecimentos, um levantamento das situações de risco a que a saúde de seus colaboradores está exposta. A partir dessas informações e do resultado dos mais de 12 mil exames médicos ocupacionais feitos todos os anos, ela desenvolve ações de prevenção. “Desenvolver e aprimorar programas de promoção de saúde e segurança do trabalho faz parte do planejamento estratégico da empresa”, diz Maria Cristina Pinto Pereira, médica do Trabalho da Superintendência de RH da Sabesp.

Entre as iniciativas implementadas pela companhia, têm destaque o programa de imunização, que além de proteger todos os funcionários contra doenças como gripe, também conta com ações específicas, como a vacina contra febre tifoide aplicada em cerca de 2700 empregados em situação de risco em função do contato com esgoto.

A companhia também mantém programas de prevenção à obesidade e combate ao sedentarismo. Além disso, possui, desde 1993, o Programa de Atendimento e Recuperação do Empregado (Pare), voltado ao atendimento de dependentes químicos, que inclui tratamento psicoterapêutico e, quando necessária, internação em clínicas especializadas. “Nesses 20 anos, já atendemos mais de 1300 empregados dependentes de tabaco, álcool e outras drogas ilícitas”, afirma Maria.

Na Vale Fertilizantes, não são apenas os colaboradores que se beneficiam dos programas de promoção de saúde desenvolvidos pela empresa. Alguns dos projetos também abrangem suas famílias. É o caso da campanha de vacinação contra a gripe e o Programa de Segurança e Saúde para a Família. “Estendemos a imunização aos familiares para evitar a disseminação da doença. Espalhar informações sobre segurança e saúde no lar é importante porque ajuda a consolidar uma cultura de segurança, mesmo fora do ambiente de trabalho”, explica Andréa Maria Cardoso Manarte, gerente de Saúde e Higiene Ocupacional da empresa.

Os esforços da companhia para garantir melhores condições de trabalho para seus colaboradores receberam, em 31 de julho, o prêmio Proteção Brasil de Saúde e Segurança do Trabalho 2013, na categoria Higiene Ocupacional. Em sua nona edição, a premiação é um dos mais importantes reconhecimentos concedidos às empresas brasileiras por boas práticas em saúde e segurança do trabalho.

A implantação do processo corporativo de Higiene Ocupacional começou em 2011 na Vale Fertilizantes. Atualmente, a empresa conta com nove profissionais responsáveis por antecipar, identificar, avaliar e prevenir riscos que podem afetar o ambiente de trabalho. “Para reforçar a importância do tema, os empregados passaram por uma capacitação dividida em sete módulos, com duração de um ano e oito meses”, conta Andréa.

Desde 2004, o Consórcio Luiza, empresa do grupo Magazine Luiza, mantém ações voltadas à prevenção de doenças e melhoria do bem-estar e qualidade de vida. Além de ginástica laboral e acompanhamento nutricional, a empresa possui o projeto FIB (Felicidade Interna Bruta). Nele, cada colaborador mapeia fatores que impactam sua saúde. A partir dessa lista, a empresa desenvolve ações preventivas. “Desenvolvemos ações em diversos níveis, desde alimentação, até aspectos emocionais, profissional, sociais e econômicos”, afirma Andresa Massuttin, gerente de Gestão de Pessoas do Consórcio Luiza.

As futuras mamães que trabalham para a Telefonica Vivo recebem atenção especial da empresa. Elas contam com ajuda que vai desde aulas para aprender a dar banho e trocar as fraldas do bebê até acompanhamento da gestação por uma equipe médica. O projeto atendeu 1200 gestantes desde que foi criado, em 2006. “Antes do início do acompanhamento eram registrados cerca de seis casos de nascimento de bebês prematuros ou abaixo do peso por trimestre. Agora esse número caiu para um”, afirma o médico Michel Daud Filho, diretor de Promoção à Saúde.

O sobrepeso é outra preocupação para os colaboradores da empresa de telefonia. Desde 2008, eles contam com o atendimento de uma equipe médica para auxiliá-los na reeducação alimentar. “Nos últimos quatro anos, atendemos mais de 3500 pessoas e reduzimos o percentual de funcionários com sobrepeso em 40%”, comemora Filho.

Maria Aparecida Bocchi Castellaro, gerente de RH da Gi Group Brasil, chama a atenção para a importância de os gestores serem esclarecidos sobre essas questões. “Se as medidas preventivas foram tomadas e, ainda assim, um trabalhador fica doente, o caminho é o afastamento, para evitar a proliferação da doença”, diz ela. Às vezes, explica, receosos com atrasos nas entregas de trabalho, supervisores e diretores demonstram desaprovação ao afastamento dos colaboradores e esses, sob a ameaçada de serem mal avaliados, não se ausentam.

Dadas as consequências de uma conduta equivocada dos gestores, aconselha Maria Aparecida, o RH e a área de medicina do trabalho das empresas devem promover programas de sensibilização e conscientização e mostrar que fechar os olhos para a doença do colaborador pode custar mais caro para as companhias. “É um trabalho de quebra de resistências e paradigmas, mas, aos poucos, é possível conseguir bons resultados.”

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