sábado, 17 de agosto de 2013

Anjos Existem

Às 7 da manhã já começa o movimento.  Vem lá de longe a dona Jovelina trazer o corante. Senta, toma café, bebe água, descansa e vai. Geralmente levando algum mantimento, roupa ou “ajuda” para suas dificuldades. E assim corre o dia. Tio Jair chega pra bater um papo, Maria do Isnar vem de São João tratar os olhos, Dona Odete de Tumiritinga pra consultar a coluna. E tem Zé Orlando, Waltinho da cantina, João da loja, e vem dona Balbina descansar da caminhada, e dona Maria que tá ruim dos joelhos, e mais um, mais dois, mais dez.
É tanta gente entrando e saindo que ela já deixa a chave no portão do meio e, quem vem sempre, nem toca a campainha mais. Entra, senta, conversa, descansa, e “ai” da pessoa se for embora sem tomar um café, sem comer um bolo, sem fazer um lanche.
Por morar em uma boa casa na região central de Governador Valadares, por lá passam semanalmente todos estes aí e muitos outros mais. Mas não é só pela comodidade ou pelo café. É pra receber um pouco de gentileza, de atenção, de afeto, de boa conversa. Pra receber um pouco de amor.
Aos mais simples ela ajuda com donativos, com hospedagem, com aquele almoço gostoso; para os mais abastados é sempre o sorriso, o afago, o amor, e se precisar todo o resto também. Na verdade é tudo, pra todos, o tempo inteiro. Sempre foi assim e sempre será. Pertence àquele tipo, raro acho eu, que se apraz verdadeiramente em cuidar dos outros.
Não tem um hábito sagrado que não seja o de conceder atenção àqueles que precisam. Sempre foi muito simples, e embora Graças a Deus tenha há muito tempo uma vida confortável, usa este conforto mais em prol do próximo do que de si mesma.
Fico observando e às vezes me pergunto como pode ser. Frequentemente me custa tanto dar atenção a dois ou três colegas que eventualmente precisam de uma palavra – por me julgar muito ocupado – que fico de verdade espantado frente a um ser humano que é pura e completa doação.
Ela é essa senhorinha linda que você pode ver na foto aí de cima.  É minha avó.  Na verdade é minha mas é de todo mundo também, pois está sempre ali pronta a alegrar quem quer tenha a benção de cruzar seu caminho.
Eu agora a vejo de quando em quando, embora nos falemos toda semana. Mesmo distante ela cuida de mim todos os dias, com mais carinho ainda depois que minha mãe faleceu. Sempre preocupada, sempre atenta, sempre Dona Alcéia.
Não minto nem exagero. E os que a conhecem sabem que, ao tocar a campainha e ver aquela cabecinha branca caminhando, com o sorriso aberto e o molho de chaves na mão, encontrarão por minutos, horas, dias se precisarem, o aconchego e o cuidado divino que somente um anjo pode oferecer.
Obrigado Vó, por tudo que me ensina!

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