Uma imagem vale mais do que mil palavras, mas quando ambas são combinadas de maneira pouco harmônica surgem malentendidos que podem custar caro às empresas.

Um ditado popular – que, aliás, é repetido ad nauseam de forma incorreta há muito tempo – também expressa a importância da transmissão das ideias para se alcançar um determinado objetivo: “quem tem boca VAI A Roma”. Ou seja, quem sabe se expressar consegue o que quer. O que nem todos sabem é que essa frase antiquíssima surgiu como “quem tem boca VAIA Roma”, numa referência à devassidão e corrupção dos imperadores e administradores romanos no trato com as colônias. Era uma fala de protesto, com sentido bem distante do que tem atualmente.
O ato de comunicar, de forma bem simplista, significa receber um dado bruto, formatá-lo adequadamente e disseminá-lo como informação que seja útil. Por isso mesmo as mídias sociais (TV, rádio, internet) são chamados de serviços de utilidade pública, pois são responsáveis por transmitir a uma grande parcela da população um conteúdo que teria o efeito de formar, modificar opiniões e – no melhor dos mundos – provocar reflexões construtivas sobre a manutenção e o futuro da vida em sociedade.
Como nem tudo são flores e dada a qualidade de certas programações televisivas – como os deploráveis “bestiality” shows – e de produções musicais de quinta categoria – os escatológicos e pejorativos proibidões do funk -, surgem algumas questões importantíssimas: será que toda informação precisa necessariamente ser transmitida? Se for espalhada, essa informação será digerida por qualquer público receptor? Qual é a melhor forma de comunicar com o mínimo possível de ruídos ou ambiguidades?
Comunicação empresarial e meios eletrônicos
No ambiente empresarial não poderia ser diferente. Sob as bandeiras do politicamente correto, sustentabilidade, compliance policies, interfaces, excelência em gestão e transparência nas relações patrão-empregado, as corporações têm procurado desenvolver ferramentas e canais de comunicação com clientes, fornecedores e colaboradores. Tornou-se fundamental demonstrar boas práticas e dar visibilidade a suas ações globais, e as intranets e perfis em redes sociais surgem como expoentes máximos desse processo.
Agências de comunicação e web designers são contratados para criar páginas com recursos interativos de última geração, vídeos, animações e outras funcionalidades que provoquem reações de identidade com o discurso apresentado pelas empresas, fixando conceitos e reforçando vínculos. Quando um internauta acessa um desses sites, recebe uma imagem extremamente positiva de um lugar onde as pessoas são felizes, os profissionais são valorizados e estão no auge de seu desempenho. Uma prova disso é que quase sempre há um link chamado “Faça parte de nossa equipe”, o que evoca o sentimento de “preciso fazer parte desse time vencedor”. Até aqui, tudo bem.
Qual é o problema, então?
Uma parcela enorme das empresas capricha na aparência externa, porém ainda falha desgraçadamente no feijão- com-arroz: o feedback dos líderes sobre os objetivos da empresa para os liderados é raro ou inexistente, os comunicados internos são disparados com informações ambíguas e imprecisas, convocações para eventos comemorativos são feitas em tom imperativo, a filosofia, missão/visão e os guiding principlesnão são compreendidos sequer pela totalidade dos gestores, o conhecimento sobre o negócio não circula adequadamente entre os departamentos, entre outras anormalidades.
Mas será que o público externo não percebe nada? De certa forma sim, e numa situação bem característica: nos processos seletivos. Candidatos são convidados a participar, passam por triagens, testes, entrevistas, dinâmicas; surgem os finalistas, um destes é escolhido… mas os demais sequer são avisados sobre sua não aprovação, ou sob quais circunstâncias não conseguiram preencher os requisitos da vaga.
Tão ou mais grave do que isso é constatar que até mesmo em seleções internas essas aberrações acontecem, com resultados igualmente frustrantes para quem se candidata. O que resta são sentimentos de inaptidão, incapacidade para crescer ou mudar de área e desconfiança sobre a lisura e justiça da concorrência. Observe as seguintes
situações:
Situação nº1: Gislene era operadora de máquina extrusora em uma indústria plástica. Exercia a função há dois anos, tendo iniciado como ajudante. Foi anunciada uma vaga para o departamento de compras e Gislene percebeu que poderia concorrer, pois detinha os conhecimentos requeridos. Conversou com seu chefe, que a encorajou a participar, candidatou-se, foi entrevistada pelo gerente de compras e aguardou pela resposta que seria dada dali há três dias. Como não recebeu nenhum retorno, procurou o RH e ficou pasma ao saber que o candidato fora escolhido no mesmo dia em que ela havia sido entrevistada.
Situação nº2: Célio havia sido contratado para o setor de comunicação interna de uma editora. Mesmo sendo extremamente hábil na utilização de softwares gráficos, inúmeras vezes cometia erros gramaticais básicos na intranet da empresa. Acabou involuntariamente se transformando em personagem constante das anedotas que circulavam por e-mail entre os departamentos até que, por indicação de um colega, passou a ler mais atentamenteo que havia escrito, recorrendo a dicionários para sanar dúvidas.
Casos como esses refletem a necessidade de se ter mais cuidado com a comunicação. Muito mais do que mostrar tudo em tempo real e com propagandas mirabolantes e pirotécnicas, as empresas devem se preocupar com a clareza das informações que estão veiculando; devem buscar uma linguagem mais clara, simples e direta que não dê margem a interpretações distorcidas ou confusas.
Justamente por não avaliar estes parâmetros, gastam-se milhares de reais com consultorias e estudos para tentar descobrir por que as pesquisas de clima apresentam resultados por vezes negativos e preocupantes, e a resposta muitas vezes está exatamente na forma como as metas, os objetivos e as propostas são apresentadas nas reuniões de equipe, malas diretas, folders, flyers, panfletos ou mesmo através do mailing interno.
“Quem não se comunica, se trumbica”. Quem não é claro no que comunica, até muito mais.
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