Uso com frequência conceitos que o prêmio Nobel Daniel Kahneman popularizou para que possamos compreender melhor as sérias limitações que temos por um simples fato: somos predominantemente automáticos e inconscientes. Seu recente livro, Thinking fast and slow, é dedicado a explicar como tomamos decisões erradas de forma automática e previsível. Kahneman se concentra em erros que cometemos, não por descontrole emocional, mas por uma clara preferência que nossa mente tem por usar regras de decisão rápidas e econômicas em termos do uso de nossa energia. Compartilho com vocês minhas principais reflexões à partir do livro. Se trata do modelo “dos 2 sistemas” no qual avaliamos o mundo através de dois sistemas de decisão:
Sistema 1: opera em tempo integral, é automático, veloz e responsável por muitos erros que cometemos por falta de consciência do que falamos, pensamos ou fazemos. Má notícia, somos primariamente automáticos e reativos.
Sistema 2: depende de uma decisão consciente de usá-lo, é mais lento e exige esforço ao analisar fatos e consequências. É esse sistema que nos faz realmente racionais e que nos defende de reações exageradamente emocionais. É útil reconhecer que passamos a maioria de nossas vidas operando em piloto-automático. Não faz sentido, por exemplo, ter consciência de todos os movimentos e decisões que produzimos ao dirigir ou caminhar por exemplo. A maior parte das coisas que fazemos é composta por hábitos e automatismos (analise seu próximo café da manhã…).
Isso é normal, mas está no centro da dificuldade da busca pelo autoconhecimento. Repare como as conclusões e preferências que você produz ao longo do dia ocorrem de forma instantânea. Umas poucas merecem uma parada para exame não é? É razoável supor que a natureza nos adaptou à sobrevivência através de sistemas que buscam velocidade e economia de energia. O sistema 1, automático, entrega essas duas metas que regem o mundo animal. A capacidade de agir de forma rápida, automática e eficiente determinou a sobrevivência das espécies. Lembre-se que o cérebro, apesar de ter cerca de 2% da massa do corpo consome algo entre 20 e 25% da energia e oxigênio disponíveis. É um orgão cujo uso é bastante “caro”…
Veja você que desafio formidável para quem busca ser menos reativo e automático: tentar reduzir o poder ao sistema de decisão predominanteque possuímos e tentar empoderar o sistema que pode moderá-lo, que é nossa racionalidade de alto nível. Agora deixo o Dr. Kahneman que, claramente, se mostra pouco otimista com a possibilidade de que o “sistema automático” possa perder seu status dominante. Apesar de concordar que não é possível evitar o predomínio final desse sistema, estou interessado em reduzir sua dominância através da atenção. Afinal, nos últimos 15 anos muito se publicou sobre a possibilidade real que temos em aumentar nosso nível de consciência sobre o que estamos prestes a fazer através de conhecimento e formação de novos hábitos. Acho útil usar o modelo dos dois sistemas para tornar mais fácil a compreensão de um ditado popular:
“quando a cabeça não pensa, o corpo é que paga… “
Inteligência Emocional: 17 anos de forte divulgação
Um grupo influente de psicólogos e neurocientistas que trabalha na linha de evolução pessoal está unido em alguns conceitos básicos que compõe aInteligência Emocional. A idéia de que habilidades emocionais são muito mais definidoras de sucesso e felicidade do que o velho QI foi popularizada em 1995 por Daniel Goleman. O QI é básico, necessário mas claramente precisa ser potencializado por capacidades ligadas à forma como lidamos com nossas emoções e as emoções dos outros.
Há vários modelos respeitados de inteligência emocional e eles apontam que aautopercepção está na base da evolução pessoal e é a capacidade-chave a ser desenvolvida. No ocidente, o hábito de monitorar nossas emoções e pensamentos é para muitos uma total novidade. Quem não tem esse hábito é refém de suas emoções e suas reações são por definição pouco refletidas. Lembre de alguém que você viu explodir e falar ou fazer coisas sem sentido. Lembre como esta pessoa parecia surda e cega ao que ocorria à sua volta.
Lembre como a estratégia que usou para atender suas necessidades foi pouco inteligente. Assim é a vida no piloto automático, ao sabor do sistema 1. Quando vemos a silhueta de uma cobra no chão da cozinha, damos imediatamente um pulo para só depois descobrir que alguém deixou um cinto no chão (além de pensar que cobras em geral não habitam o oitavo andar de uma metrópole). Quem decidiu que sistema 1 (automático) seria usado? Há uma clara hierarquia coordenando os “dois sistemas”: se há uma ameaça importante, quem entra em ação é o sistema automático. Faz sentido no tocante ao risco de vida mas é aí que mora o problema. Nossa rotina atual tem menos riscos associados à cobras e leões mas nosso padrão de reação continua bastante vigoroso para lidar com e-mails, sms’s, frases irritantes e outras coisas que não são tão mortais mas acabam sendo sentidas em enorme intensidade e gerando reações intensas.
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