ANTONIO PITA / RIO - O Estado de S.Paulo
Apesar de ser um dos principais temas presentes na Cúpula dos Povos, a coleta de lixo ficou de fora do evento
no Aterro do Flamengo. Das cercas de 450 lixeiras instaladas, apenas 25 eram para materiais recicláveis.
Nos três primeiros dias do evento, aberto oficialmente na sexta-feira, mais de 4 mil quilos de lixo não foram
separados ou tratados para reciclagem.
Entre anteontem e ontem foram apenas 960 quilos de material reciclável coletados - cerca de 20% do total
produzido no local desde o início do evento. Os dados são do Movimento Nacional dos Catadores de Material
Reciclável (MNCR), que anteontem distribuiu no parque 25 sacos de coleta, com capacidade para 120 litros cada
um. O restante do lixo foi recolhido pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), que não separa o
material.
Inicialmente, a organização do evento previa a instalação de equipamentos para triagem e prensa do material
no aterro. As máquinas chegaram a ser levadas para o aterro, mas não puderam ser utilizadas pois não cabiam
no estande destinado ao MNCR.
"Só descobrimos isso na sexta-feira e encontramos essa solução improvisada. Este evento era para ser um
exemplo, mas infelizmente isso não aconteceu", lamentou Claudete Ferreira, coordenadora regional do MNCR
e catadora há 21 anos.
A organização da Cúpula aponta desencontro entre as informações repassadas pelo movimento e também
lamentou a falta do espaço de coleta e seleção dos resíduos. "Eram equipamentos muito pesados e que
demandavam um sistema de energia trifásico, que não nos foi informado inicialmente", afirmou Suzana Crescente,
uma das organizadoras.
Desperdício. Ao fim da cúpula, no sábado, todo o material recolhido será destinado a diferentes cooperativas
do Rio para triagem, prensa e venda do material. Segundo estimativas de catadores, o material desperdiçado
nos primeiros dias do evento poderia render até R$ 8 mil, a depender da qualidade e do tipo de resíduo recolhido.
"Muitas pessoas já se conscientizaram, mas ainda há muito o que fazer para que a reciclagem e a situação dos
catadores seja vista com mais seriedade, afirmou João de Almeida, que por 15 anos foi catador no Aterro de
Gramacho, o maior da América Latina, fechado no início do mês. Ele e outros agentes ambientais trabalham
na Cúpula esclarecendo os visitantes sobre o tema e recolhendo material.
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