segunda-feira, 3 de março de 2014

Ser ocupado não é algo tão “respeitado” mais

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“O problema de se estar numa corrida de ratos é que, mesmo se você ganhar, você continua sendo um rato”. Lily Tomlin
Estar “ocupado” costumava fazer com que eu me sentisse importante na vida. Sentia que o mundo precisava de mim, como se de alguma forma eu fosse mais valioso quando tinha muito por fazer e pouco tempo livre. Talvez por isso eu usasse o “estar ocupado” como um distintivo, e rapidamente recorresse a ele quando as pessoas me perguntavam como era a minha vida. No entanto, preciso confessar, a ocupação era apenas mais um vício ao qual me agarrei para que eu pudesse evitar coisas que me deixavam desconfortável.
Infelizmente, as coisas para as quais eu não podia dar atenção por estar sempre muito ocupado, eram algumas das coisas que mais valem a pena nessa vida.
Recentemente compartilhei um artigo de um dos meus colunistas favoritos, Tim Kreider, no qual ele divulga sobre a vaidade de se estar sempre ocupado. A essência geral de seu discurso é mais ou menos esta:
“Eu tomei uma decisão consciente, há muito tempo, ao escolher o tempo ao invés do dinheiro, já que eu sempre entendi que a melhor aplicação de meu tempo limitado na terra é gastá-lo com as pessoas que eu amo. Acho que, dificilmente, vou deitar no meu leito de morte lamentando que eu não tenha trabalhado mais. O que eu realmente lamentaria é se não tivesse tido tempo de tomar uma cerveja a mais com minha esposa, Chris, de ter tido outra longa conversa com Megan, minha filha, ou uma última boa risada com Boyd, meu filho. A vida é muito curta para se ser ocupado demais”.
O artigo de Tim é apenas um dos gritos  em um movimento de frustração recente e generalizada com a ocupação perpétua da vida. Hoje em dia parece haver uma suspeita geral sobre o, uma vez viável, valor de se estar sempre ocupado. E como mais perguntas estão sendo feitas, mais respostas estão sendo encontradas.
Ao que parece, estar sempre ocupado não é uma virtude, nem é algo a se respeitar mais. Entre as muitas razões para isso, há algumas que se destacam para mim.

Pode ser falta de organização

Estar sempre ocupado pode realmente ser sinal de uma incapacidade de gerenciar bem as nossas vidas. Embora todos nós tenhamos temporadas com horários loucos, poucas pessoas têm uma necessidade legítima de estarem ocupadas o tempo todo.
Para o resto de nós, o que acontece é que simplesmente não sabemos como viver dentro de nossas possibilidades, priorizar corretamente, ou dizer não. “Ser ocupado não é o mesmo que ser produtivo”, diz Tim Ferriss. E é algo mais frequentemente usado como um pretexto para evitar as poucas ações extremamente importantes, mas desconfortáveis, que temos que realizar. Estar sempre ocupado é uma forma de preguiça – preguiça de pensar e de mudar o padrão.

Problema de autoestima

A síndrome do “estou ocupado” pode ser um indicativo de uma falta de confiança e autoestima. Muitas vezes ficamos ocupados para nos sentirmos, inconscientemente, importantes e valiosos para o mundo ao nosso redor. Infelizmente, isso aponta para um desconhecimento do nosso valor inerente, em que, independentemente do nosso desempenho na vida, somos importantes, amados e valiosos. Este terreno escorregadio, normalmente nos deixa muito desconfortáveis com nós mesmos para que consigamos desacelerar.
Ocupação demais realmente restringe o desempenho profissional e limita a capacidade mental. Com a abundância de evidência psicológica e biológica recentemente publicada sobre isso, o autor Kreider parece capturar isso muito bem na anteriormente citada “Busy Trap”, quando diz:
“A ociosidade não é apenas um período de férias, uma indulgência ou um vício. É indispensável para o cérebro como a vitamina D é para o corpo, e privados disso sofremos uma aflição mental tão desfigurante quanto o raquitismo. O espaço e a tranquilidade que o ócio proporciona é uma condição necessária para estar de volta à vida e vê-la como um todo, para fazer conexões inesperadas e esperar os relâmpagos do verão, selvagens de inspiração – é, paradoxalmente, necessário para a obtenção de qualquer trabalho bem feito”.
Ficar ocupados demais, muitas vezes, nos afasta das coisas boas da vida. Mesmo que estar ocupado faça com que nos sintamos mais vivos por algum tempo, a sensação não é sustentável em longo prazo. Nós vamos, inevitavelmente, seja amanhã ou em nosso leito de morte, desejar que tivéssemos passado menos tempo no burburinho da corrida dos ratos e mais tempo realmente vivendo. Ou, como diz Sêneca em Cartas de um Estóico, “Não há nada com que o homem ocupado seja menos ocupado do que com  viver, e não há nada mais difícil de aprender”.

Uma experiência e um desafio para resistir à ocupação exagerada

Paul E. Ralph é um especialista em angariação de fundos, direitos autorais e marketing, vivendo fora de Toronto. Ele lançou recentemente o PathwaysFund, uma ferramenta online que ajuda organizações sem fins lucrativos a cultivar a generosidade espontânea. Somos amigos de longa data.
Nunca vou esquecer  a cena de quando eu era jovem, vendo Paul do lado de fora, no frio, depois de correr da minha casa com nada além de sua cueca, uma escova de dente na boca, e um periquito de estimação sob a camisa. Isso foi depois de outro amigo e eu, na tentativa de limparmos ao redor da casa, esvaziarmos as brasas da lareira na lixeira de plástico e retorná-la para seu respectivo lugar: na garagem entre dois carros modelo Lexus. Resumindo, seis caminhões de bombeiros mais tarde, fomos capazes de salvar os carros e rir sobre o incidente hoje.
Pouco tempo depois que eu postei o artigo anteriormente mencionado, Paul me procurou para falar de uma experiência que ele e sua esposa fizeram no ano passado, e que girava em torno da questão da ocupação. É uma ideia boa demais para não compartilhar.
Com vocês, Paul:
Minha esposa e eu começamos a perceber que todos no nosso círculo de influência, inclusive nós mesmos, respondíamos a praticamente qualquer pergunta com ” estou ocupado”. Perguntas normais? ocupado. A vida normal? ocupado. Era evidente que o novo normal era uma declaração de ocupado. Isso se tornou o novo mantra da vida no século 21. “Estou ocupado!
Assim, decidimos realizar um experimento.
Decidimos nunca usar a frase ESTOU OCUPADO como uma resposta por um ano inteiro, para ver se haveria alguma mudança de atitude e / ou comportamento.
Percebemos que sim. Instantaneamente.
Fomos forçados a descrever nossas próprias situações com mais clareza, e sem o nosso melhor amigo “ocupado” para culpar, nos engajamos com as pessoas mais autenticamente. Ao fazermos isso , percebemos a profundidade geral das conversas aumentar, à medida que nós e aqueles com quem estávamos compartilhando, fomos convidados a nos comunicarmos de forma diferente sobre os nossos estados ser.
Paramos de manipular nossos amigos. Nós não estávamos realmente conscientes de que fazíamos isso antes. No entanto, com aquela pequena palavra excomungada, já não predeterminávamos a onipresente auto- resposta –  “Ocupado”
Também deixamos de culpar outras pessoas com todo o nosso chamado “estado ocupado”. Não há nada como um atarefado na multidão, diminuindo os esforços de todo mundo. Nossa ocupação de alguma forma nos valida nas mentes de nossos pares. Então pensamos. Quando paramos de usar a palavra, ficamos  livres para sermos felizes com nossos esforços – e livres para deixar que os outros se sentissem confortáveis com suas próprias realizações.
“O diabo me fez fazer isso” era uma frase bem usada quando eu era criança. Talvez “ocupado” seja a sua nova versão. Uma consequência não intencional do nosso banimento de todas as “coisas ocupadas” foi que paramos de justificar nossos pobres comportamentos e escolhas. Como nós praticamos escolher melhores palavras para descrever a nossa situação, percebemos um declínio constante no jogo da culpa. Isso incluiu dizer coisas como ” nós escolhemos assumir coisas demais… desculpe”.
E o mais importante, quando paramos de usar a palavra OCUPADO, percebemos que os outros fizeram o mesmo. Foi animador, por todas as razões acima mencionadas.
Estar ocupado, ao que parece, é uma profecia autorrealizável. Quanto mais falamos isso – mais sentimos que estamos realmente ocupados. Quanto mais nós sentimos – mais agimos como se estivéssemos ocupados. Quanto mais agimos como se estivéssemos ocupados – (bem, você sabe o resto ). Adivinha o quê? Quando paramos de dizer isso, revertemos algumas (não todas) estas loucuras.
Agora o Paul sai, e eu volto:
Então, aqui está o desafio. Independentemente do nosso amor ou ódio pela ocupação, vamos experimentar o que a sua ausência faz por nós. O que acha?
Diga a si mesmo:
Durante um mês eu vou parar de usar a palavra “ocupado”. Eu vou resistir ao conforto que ela trás, para cavar mais fundo e explicar como as coisas realmente são. Se eu me sentir muito ocupado, a minha esperança é estar consciente o suficiente para descobrir por que, e saber como eu posso mudar isso.
Junte-se a mim. Ou, pelo menos, lembre-se de que ser sempre ocupado não é tão chique assim. Além disso, muitas vezes não é tão necessário quanto nós pensamos.
Autor: Tyler Ward
Fonte http://recursosehumanos.com.br/artigo/qualidade-de-vida-comportamento/?utm_source=Rede+O+Gerente&utm_campaign=f463c7f3c4-Recursos_E_Humanos_12_02_2014&utm_medium=email&utm_term=0_651183821a-f463c7f3c4-106172596

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