quarta-feira, 5 de março de 2014

Normose ou vocemesmose?


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Outro dia, escutando o noticiário em uma rádio, foi relatado um estudo feito entre jovens mulheres de 18 a 24 anos que tinham como padrão de beleza ser magra, para não dizer, magérrima. E este foi o padrão escolhido mesmo que acarretasse males como bulimia e anorexia.
Lembrei-me, então, de um texto de Martha Medeiros publicado no jornal Zero Hora:
Lendo uma entrevista do prof. Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, vi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente. Ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar em um padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito “normal” é magro, alegre, sociável e bem sucedido. Quem não se “normaliza” acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimia, depressão, síndrome do pânico e outras manifestações de não enquadramento. [...]
Lembrei-me também que, a partir dos anos 40 e 50, o ato de fumar era uma questão de status. Todos fumavam, seguindo um padrão comportamental sem se importar com o preço a ser pago pela manutenção do hábito no que diz respeito às doenças do aparelho respiratório.
Pierre Weil e Jean-Yves Leloup, em seu livro Normose – A patologia da normalidade(Ed. Vozes), assim se expressam:
A normose pode ser definida como um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir, que são aprovados por consenso ou pela maioria de uma determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte.
Aqui quero abrir um parênteses.
Na área da saúde, existem dois sufixos muito empregados: ITE e OSE.
ITE significa doenças de origem inflamatória, como gastrite, bronquite ou amigdalite.
OSE designa doenças não inflamatórias, como artrose e nefrose, ou um estado ou situação por vezes com ideia de excesso, como leucocitose.
No nosso caso, normose pode ser o querer ser normal em excesso.
Para o normótico, a manutenção de um comportamento não saudável é justificado de uma forma bem simplista: todo mundo faz. Ninguém questiona, ninguém vai procurar saber as consequências nefastas que este “todo mundo faz” pode trazer para o corpo, para a mente e para o espírito.
Para que um comportamento possa ser enquadrado como uma normose, deve atender aos seguintes critérios:
a – a maioria concorda que é normal tal ou qual comportamento;
b – tal comportamento gera dor, sofrimento e pode levar à morte; e,
c – a pessoa não se dá conta dos malefícios gerados pelo comportamento adotado.
Agora, o que precisa ficar bem claro é a diferença entre normalidade e normose. Encontrei na internet o seguinte exemplo:
  •  normalidade saudável: levantar cedo para caminhar ou fazer uma atividade física;
  •  normalidade neutra, nem saudável, nem doentia: almoçar ao meio dia; e,
  •  normalidade patológica (normose): comer para diminuir a ansiedade.
Leloup vai mais além, afirmando que a normose acaba justificando uma inversão de valores que antes nos assustavam, mas que nos dias de hoje já são assimilados pela sociedade. Exemplo típico é o aumento da violência nas grandes metrópoles. Ela já não nos assusta tanto como há alguns anos. Podemos até achar que tal violência foi banalizada, acabamos aceitando este fato e não fazemos nada pera mudá-lo.
O mesmo ocorre com a ética, seja na política, nos negócios ou nos relacionamentos interpessoais. Quem não se lembra da lei do Gerson? Na Wikipedia está a seguinte definição de tal lei:
Na cultura midiática brasileira, a Lei da Vantagem ou Lei de Gérson é um princípio em que determinada pessoa ou empresa deve obter vantagens de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais (princípio seguido por uma parcela de agências e publicitários, que recebem pagamento por anúncios ou premiações pelo trabalho realizado mas não querem se responsabilizarem caso o efeito da divulgação cause transtornos ou danos, eximindo-se de culpa e a transferindo para o anunciante ou para o público, como ocorreu nesse caso com a agência responsável, o que não acontece no caso de premiações, caracterizando como dissimulados praticantes da Lei da Vantagem). A “Lei de Gérson” acabou sendo usada para exprimir traços bastante característicos e pouco lisonjeiros do caráter midiático nacional que passa a ser interpretado como caráter da população, associado à disseminação da corrupção e ao desrespeito a regras de convívio para a obtenção de vantagens.
A normose acaba sendo maquiavélica, onde o fim justifica os meios, não importando quais e quantas pessoas serão prejudicadas com isso.
Insensibilidade e egoísmo são duas características básicas de quem é normótico.
Poderia citar inúmeros exemplos de normoses, mas todas elas tem dois pontos em comum: são automáticas e inconscientes.
Veja, por exemplo, os jovens da geração Y que estão sempre digitando e compartilhando coisas em seus tablets e smartphones. Amanhã poderão desenvolver problemas como LER (lesão por esforço repetitivo) e terão que “dar um tempo” aos seus dedos. Imagine, agora, este jovem impossibilitado de digitar e compartilhar suas coisas. Certamente ele ficará ansioso e estressado. Sinônimos de alterações psicológicas na certa e que poderão acarretar algum tipo de malefício para o corpo, como uma gastrite nervosa, por exemplo.
Quer outro exemplo?
Imagine alguém que se enquadre no padrão “profissional de sucesso”, ou seja, mora bem, troca de carro todo ano, tem um emprego que lhe proporciona visibilidade, poder e status, ganha bem, tem família, amigos, mas não é feliz. Sente-se angustiado, ansioso, sente um “vazio aqui, ó, bem no centro do meu peito”, sente-se mal, culpado por ter escolhido aquele estilo de vida, etc. etc. etc.
Mesmo que tudo esteja funcionando dentro da normalidade, parece que falta algo para preencher esta pessoa ou que a faça sentir-se plenamente feliz e realizada.
Veja como o prof. Hermógenes se expressa sobre o tema:
Um “normótico” é o tipo engedrado pela coletividade, por ela considerado e dela dependente. É o tipo tido por “normal” na sociedade em que vivemos.
“Normótico” é o “mesmificado” que, sempre buscando ajustar-se ao coletivo, perde sua identidade e faz todas as concessões aderindo à dança dos modismos que se sucedem. É subserviente à moda e, sem a mínima possibilidade de optar e discordar, adota as mesmas ideias, entroniza os mesmos valores, segue os mesmos líderes, consome os mesmos produtos. É um robô acionado pela batuta do marketing.
Ele é infeliz e não sabe. As coisas, os prazeres e as pessoas que consegue comprar oferecem-lhe efêmera felicidade embusteira com a qual, a princípio iludido, se entretem.
Ele é frágil e inseguro, mas disto não se apercebe, pois os “bens” e o status que conquista, embora transitórios e fúteis, alimentam-no com a ilusão de serem perenes, de nunca virem a faltar.
Ele é um doente, mas ignora. Para ele a doença é algo que, temporariamente o retira de sua “normalidade”, mas que a Medicina, subserviente, virá em seu socorro para vencê-la.
Estar e ser doente são conceitos que escapam à maturidade mental dos “normóticos”.
A normose é uma forma de exercer o poder, seja ele social, econômico ou político, onde os “normóticos” sempre tiram proveito pessoal, indiferentes à dor, à miséria, à injustiça que impõem a multidões de infelizes.
A normose pode ser vista como uma praga, um mal que deve ser eliminado para prevenir males para o nosso corpo e a nossa mente.
E como se livrar dela ou não deixar que ela se instale em nós?
Basta sermos nós mesmos. Exercer nosso autoconhecimento e nosso livre arbítrio. Sabendo escolher o que é melhor para nós em cada uma de nossas oito áreas, as quais venho me referindo sempre que a ocasião assim sugere.
Sobre o “ser você mesmo”, leia e reflita sobre o texto abaixo:
Um sábio chamado Lin estava deitado em seu leito de morte, rodeado por seus discípulos. Ele chorava desconsoladamente e ninguém conseguia consolá-lo.
Um dos seus discípulos lhe perguntou:
- Mestre, por que está chorando se você é quase tão inteligente como o patriarca Abraão e tão bondoso quanto o próprio Buda?
E Lin respondeu:
- Quando eu partir deste mundo e comparecer frente ao tribunal celestial, ninguém me questionará porque não fui inteligente como Abraão e bondoso como Buda. Pelo contrário, a pergunta que me fará será: Lin, Por que não foste como o Lin?
“Ser você mesmo” deve ser não apenas uma conduta, mas um mantra que serve de antídoto para se viver em uma sociedade que insiste em impor padrões, como devemos agir e como deve ser nosso jeito de ser.
“Ser você mesmo” significa ser natural ou, pelo menos, esforçar-se para ser natural, ser real e autêntico.
 “Ser você mesmo” significa não medir esforços para não ser mais um na boiada, não ser mais uma pessoa comum e normal.
“Ser você mesmo” é ser espontâneo, transparente, íntegro, ético e sincero, características que devem ser demonstradas por suas atitudes, mesmo que isto incomode os comuns e os “normóticos”.
“Ser você mesmo” é exercer sua plena liberdade sem ficar prisioneiro de dogmas e padrões.
Mas lembre-se: liberdade é fazer aquilo que não prejudica nem a si e nem outras pessoas.
O mesmo prof. Hermógenes lembra que “na ânsia por uma mal-entendida liberdade, certos “normóticos” confundem o ser feliz com o ser devasso, “assumido”, “liberado”, e se sentem à vontade em “curtir um barato”, embora depois recaiam trágicas consequências sobre ele: escravidão ao traficante, AIDS, demência. [...] Muitos jovens, confundindo a liberdade com outra coisa, às vezes, rompem com violência seus vínculos com o lar e se entregam a uma aventura que, a princípio, pode até ser uma aventura, mas que, inevitavelmente, acaba em desventura.”
Somos livres por natureza. Por isso somos, em essência, muito mais naturais do que comuns e normais.
E se você quiser se auto-aplicar uma overdose, que seja de vocemesmose.
Pense sobre isso para ser, autentica e naturalmente, mais feliz.
Fonte http://favaconsulting.com.br/valores-felicidade-etica/?utm_source=Rede+O+Gerente&utm_campaign=afb2705640-Fava_Consulting_24_02_2014_Grupo_OG&utm_medium=email&utm_term=0_651183821a-afb2705640-106172596

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