domingo, 10 de novembro de 2019

Os líderes de Gladiador, Coração Valente e 300



Aqui mesmo no Portal Administradores eu já tive a oportunidade de falar sobre o épico Gladiador (Gladiator, 2000), e sobre o exemplo de liderança exercido por seu protagonista, o general romano Maximus Decimus Meridius (Russell Crowe) ao longo do filme. Desta vez, eu volto a falar do excepcional épico do diretor Ridley Scott, mas não somente dele. Assim como Gladiador, outros dois épicos marcaram época não só como grandes produções cinematográficas, mas também como lições de liderança, cada um ensinando diferentes valores à sua maneira. Estou falando de Coração Valente (Braveheart), filme dirigido e protagonizado por Mel Gibson em 1995, e 300, pauleira dirigida por Zack Snyder em 2006.

Os três filmes são sucessos absolutos de público e crítica - Gladiador e Coração Valente foram agraciados com o Oscar de Melhor Filme, e 300 já nasceu um sucesso avassalador de público - portanto, nem vou me alongar ressaltando as inquestionáveis qualidades visuais e dramáticas das produções citadas. O intuito deste texto é evidenciar os diferentes e eficientes tipos de liderança exercidos por seus impetuosos protagonistas: o general interpretado por Crowe, o rebelde escocês William Wallace personificado por Gibson, e o feroz Rei Leônidas interpretado por Gerard Butler.

O que é importante ser observado é que todos os personagens citados não carregam consigo apenas uma habilidade a ser destacada, todos eles têm um pouco do outro. Todo líder deve ser inspirador, forte e tem de conhecer o seu time. É assim também no mundo corporativo; não basta ser um líder competente apenas no campo de atuação (batalha), deve-se conhecer sua equipe e inspirá-la a ser a melhor que puder ser. Alguns líderes nascem prontos para liderar, outros aprendem com muito preparo e experiência, outros aprendem à ferro e fogo, no calor da batalha corporativa diária.

O general Maximus de Gladiador é o exemplo da liderança nata. Em Roma, era o homem, a referência a ser seguida. Respeitado e admirado até pelo César, Maximus é o soldado que resolve qualquer situação. Mesmo quando é traído pelo invejoso filho do César e perde sua posição e sua família, tornando-se um escravo, Maximus continua a ser a referência. Imediatamente os outros escravos o vêem como o líder, o homem a ser seguido. Ele leva seus homens de escravos à guerreiros do Coliseu, e conquista não só admiradores dentro da própria corte romana, como conquista também o público da arena. A liderança corre em suas veias, não pode ser contida.

O líder nato não manda, ele influencia. Sente-se confortável com a atenção alheia e não tem medo de se expor. O líder nato é uma pessoa com alto grau de iniciativa e está sempre de prontidão, atuando com proatividade. É também um bom comunicador, eloquente e com boa capacidade de síntese. O líder nato sabe arriscar no ponto certo e adota novas práticas quando as antigas não funcionam mais tão bem, o que leva à outra de suas qualidades: a curiosidade. O líder nato é mais interessado e aberto para o novo, busca novas soluções e tem interesse genuíno pelo que está acontecendo ao seu redor. Ele possui empatia e sabe se colocar no lugar do outro, e se preocupa com a maneira que os outros o percebem, evitando cometer injustiças e compreendendo a fundo a equipe – dúvidas, angústias, motivações.

Já o rebelde escocês William Wallace de Coração Valente segue uma outra direção. À princípio, Wallace só quer a paz, para si e para seus amigos e compatriotas. Contudo, quando a guerra bate em sua porta, ele acaba se tornando o líder de uma pequena milícia que aos poucos vai ganhando corpo e se torna uma real ameaça à Inglaterra, que na época exercia domínio sobre a Escócia. Wallace é o que podemos chamar de líder inspirador. Na primeira batalha que seu pequeno exército (formado em grande parte por fazendeiros e camponeses) trava contra uma força inglesa muito maior e mais preparada, tanto os ingleses quanto seus próprios homens dão a derrota como certa. Mas em seu discurso antes da batalha, Wallace exerce uma verdadeira transformação em seus comandados, inspirando-os a lutar por sua liberdade. É uma cena inspiradora para o próprio público e comovente em sua honestidade. Foi a inspiração de Wallace que deu início à emancipação da Escócia do domínio britânico.

O líder inspirador é um líder que possui uma visão convincente de futuro, garantindo uma direção clara onde todos possam trabalhar coletivamente para o alcance de um objetivo em comum. É um estilo exemplar de liderança que enaltece as forças de virtude e caráter de pessoas e equipes, energizando e criando um senso de propósito com impulso para mudança. Essencialmente, um líder inspirador possui uma visão que está acima e adiante do seu tempo: é uma visão de futuro. Além disso, sabe inspirar pessoas com esta visão, fazendo com que assumam missões ousadas e responsabilizem pelos resultados. Os líderes inspiradores não comandam equipes, ao contrário, desenvolvem e performam equipes.

Por fim, é hora de falar do Rei Leônidas dos 300 de Esparta. Leônidas meio que engloba um pouco da liderança natural do Maximus de Gladiador com a inspiração inerente de Wallace. A questão é que o Rei espartano exerce um outro tipo de liderança, que eu gosto de chamar de "liderança íntima"; ou seja, Leônidas é o cara que tem o time na mão. Com uma equipe coesa e treinada de maneira exímia, Leônidas levou seus trezentos melhores soldados para bater de frente contra a invasão do Império Persa, que contava com uma força militar infinitamente maior que a sua. Estrategista, Leônidas encurralou os soldados inimigos afunilando o campo de batalha de forma que seus soldados tivessem a opção de um combate mano a mano, onde eram praticamente imbatíveis. Leônidas conhecia cada um de seus comandados e sabia tirar o que cada um tinha de melhor, à ponto de preferir travar uma batalha com menos homens ao seu lado, quando poderia ter levado consigo uma força maior.

É assim também no mundo corporativo. Já trabalhei em locais onde quanto menor a equipe, mais eficiente ela era. Isso acontece porque com uma equipe reduzida, fica mais fácil para o líder conhecer as qualidades (e defeitos) de seus funcionários, o que ajuda na hora de exigir mais de um ou de outro e também quando chega o momento de motivá-los. Quando uma equipe é mais coesa, seu líder está sempre mais próximo, e é natural que os membros da referida equipe enxerguem seu líder como um deles, alguém que está junto, lado a lado na batalha diária. Assim como o próprio Leônidas, que lutou em igualdade ao lado de seus companheiros. Quando se tem um time na mão, os resultados quase sempre são garantidos.

Como comentei anteriormente, o verdadeiro líder não pode ter apenas uma das qualidades mencionadas acima. O ideal é que aquele que almeja a liderança, agregue valores como a habilidade de inspirar e ter controle sobre sua equipe. Assim como aquele que nasce para ser líder, saiba trabalhar suas habilidades para que obtenha o melhor de seus comandados, e não apenas exerça uma liderança no papel. Lembre-se, ser um verdadeiro líder é vestir a camisa, arregaçar as mangas, e caminhar junto dos seus, guiando-os em direção ao sucesso. Haverão derrotas, é claro (Wallace, Leônidas e o fictício Maximus pereceram em batalha), mas seus legados tornaram-se imortais. E você? Vai ter a audácia de baixar a cabeça quando a derrota chegar? Se lembrar por um momento de algum destes exemplos do cinema, tenho certeza que não.

Gladiador, Coração Valente e 300 estão disponíveis em canais por assinatura, sistemas de streaming e mercado de Home-Video.

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