domingo, 31 de março de 2019

Náufrago: controle o tempo, ou ele controlará você

Assim como o filme evidencia, é preciso saber gerenciar o tempo e suas prioridades. No ambiente de trabalho então, tal qualidade é essencial

À primeira vista, Náufrago (Cast Away, EUA, 2000), é aquela típica sessão ao estilo do aventuresco Robinson Crusoé ou mesmo do gasto Lagoa Azul, se retirarmos o romance da equação. Mas não. Bastam poucos minutos de projeção para entender que Náufrago é muito mais do que um filme sobre um homem preso em uma ilha deserta. Náufrago é na realidade um filme sobre o Tempo, mais precisamente sobre seu inexorável transcorrer e principalmente, sobre o controle que ele exerce em nossas vidas. Além do trabalho soberbo (mais um) de Tom Hanks, que carrega dois terços do filme completamente sozinho, Náufrago é uma história simples e forte, uma parábola sobre o tempo e o que decidimos fazer com ele. Na realidade, a maneira como o protagonista lida com o tempo que tem em mãos, é o fator que decidirá entre sua sobrevivência ou morte.
Hanks interpreta Chuck Noland, um executivo da Federal Express (FedEx, uma multinacional americana do serviço de entregas expressas), cuja obsessão pelo tempo o transformou um uma referência em seu trabalho. Noland é o tipo de executivo que vive mais no ar do que em terra, viajando de país em país com o intuito de otimizar ao máximo as entregas da empresa a qual representa.

Quando o filme começa, por exemplo, Noland está em Moscou acelerando algumas transferências de mercadoria, antes de embarcar para a Ásia para resolver problemas. Quem sofre com a rotina acelerada de Chuck é sua noiva, Kelly Frears (Helen Hunt, de Twister e Melhor é Impossível), que tenta da melhor maneira possível aceitar um homem controlado pelo seu pager (sim, não parece, mas Náufrago está prestes a completar 20 anos de existência, nada de celulares aqui). Numa sacada brilhante do diretor Robert Zemeckis (Forrest Gump, trilogia De Volta Para o Futuro) e seu roteirista, William Broyles Jr. (Apollo 13, A Conquista da Honra), pouco antes da fatídica viagem de Chuck, Kelly presenteia o noivo com o relógio de bolso de seu avô, e o que parece apenas um sutil artifício da narrativa, acaba ganhando um significado só seu dentro do filme.
A referida viagem fatídica do protagonista se materializa quando Chuck pega uma carona em um voo da FedEx que enquanto sobrevoa o Pacífico durante uma tempestade, é atingido por um raio e acaba caindo no mar, em uma sequência dirigida de maneira primorosa por Zemeckis. Noland sobrevive à queda e flutua em um bote inflável até uma ilha deserta, a qual ele nem imagina o quão pequena e remota a mesma realmente é. O centro de efeito e poder do filme é justamente a ilha. Chuck, um homem de tempo e movimento, encontra-se pela primeira vez em sua vida em um mundo sem relógios, programações ou mesmo um futuro. E passado o choque inicial em que Chuck constata a real extensão de sua situação, é que Náufrago começa a revelar seu verdadeiro propósito.
Não é porque Chuck está sozinho e isolado em um lugar onde o tempo parece não existir, que ele deve abaixar a cabeça e aceitar o que parece ser o ponto final em sua existência como a conhecia. Chuck põe suas mãos à obra, e aos poucos começa, sem mesmo perceber, a criar uma programação em sua nova rotina diária. Primeiro com o básico para sua sobrevivência, como fazer fogo, pescar seu alimento, encontrar abrigo e água potável.
Depois, a maré aos poucos traz à praia alguns pacotes da FedEx que estavam sendo transportados no mesmo avião que levava o protagonista, e da mesma forma, Chuck vai aos poucos encontrando serventia para cada um dos ítens que chegam às suas mãos. É num destes pacotes que chega aquela que viria a se tornar a bola de vôlei mais famosa do mundo, a qual o protagonista passa a chamar de Wilson (não que esse já não fosse o nome do fabricante da bola).
Aliás, abrindo um parênteses aqui, assim como aconteceu com o filme Fome de Poder (The Founder), cuja crítica também está disponível aqui no Portal Administradores e que foi criticado por "defender a bandeira" da maior marca de fast-food do mundo, o McDonalds, Náufrago também recebeu algumas críticas que chamaram o filme de um comercial de duas horas de duração da FedEx, tamanha a ênfase que o filme dá à marca dentro da narrativa. Nonsense. Mais do que um mero artifício narrativo, a FedEx e seu método de operação ajudam a construir a figura de seu protagonista, um homem cuja predisposição e dedicação ao trabalho foi a responsável direta por sua sobrevivência na ilha.
Pouco depois do início da segunda metade do filme, o roteiro dá um salto de quatro anos. As marcas do isolamento total depois de todo este tempo são visíveis no protagonista. Ele perdeu muito peso, sua pele está bronzeada, o cabelo e a barba o fazem parecer um Matusalem do Pacífico, e sua sanidade mental está por um fio. Mas mesmo nos momento mais desoladores do personagem, o filme revela que Chuck nunca, NUNCA perdeu a noção do tempo. Ele sabe exatamente há quantos dias está no local, e já sabe controlar o vai e vem da maré alta, o que mais tarde se revela vital quando surge um oportunidade única dele sair vivo da ilha.
Nem é preciso dizer que as características em torno da sobrevivência de Noland funcionam como uma metáfora para o mundo real.
Assim como o filme evidencia, é preciso saber gerenciar o tempo e suas prioridades. No ambiente de trabalho então, tal qualidade é essencial. Em tempos em que precisamos assimilar quantidades massivas de informação vindas de todos os lados, e muitas vezes organizá-la, a otimização do tempo torna-se um requerimento mais do que necessário para se efetuar um bom trabalho. E não é preciso estar perdido em uma ilha deserta para constatar isso.
Algumas dicas valiosas sobre uma melhor administração do seu tempo:
Priorize o trabalho:
Antes de o dia começar faça uma lista das tarefas que precisam da sua atenção imediata. Lembre-se que as tarefas não tão importantes assim podem consumir até mais tempo do que aquelas que exigem uma execução/finalização rápida. Isso sem contar que algumas das tarefas têm que ser terminadas naquele mesmo dia, enquanto outras podem esperar um pouco mais. Em suma: priorize suas tarefas e foque naquelas que são mais importantes.
Fuja da procrastinação:
Ultimamente muitos artigos têm sido escritos sobre o mal da procrastinação. E não é para menos, afinal ela é um dos itens que mais afetam negativamente a produtividade e pode resultar em um gasto desnecessário de tempo e energia. De uma maneira geral, procrastinamos as tarefas mais complicadas ou as menos prazerosas.
Uma dica aqui é pensar sempre no porque aquela determinada tarefa é importante e qual será seu resultado em curto, médio e longo prazo. Além disso, claro, peça ajuda sempre que achar necessário ou divida a tarefa em atividades menores, delegando-as.
Agende as tarefas:
Seja com um aplicativo para gerenciar tarefas, uma planilha ou um caderno de anotações, faça uma lista de todas as tarefas que vêm em sua mente. Faça uma simples “To-do list” antes de o dia começar, priorizando as tarefas (conforme falamos anteriormente) e tenha certeza de que elas são tangíveis (por exemplo: não adianta pensar que você terminará uma atividade X naquele dia se você sabe que ela exigirá mais tempo de você).
Defina deadlines:
Assim que você assumir uma tarefa, defina um deadline realístico e mantenha-se nele.
Evite fazer mil coisas ao mesmo tempo:
Ok, sabemos que a maioria de nós sente que fazer mil coisas ao mesmo tempo é sinônimo de conseguir cumprir o maior número possível de tarefas, mas a verdade é que o ser humano faz melhor suas atividades quando foca e concentra em uma coisa de cada vez. Ser multitarefas pode estar sabotando a sua produtividade.
Comece cedo:
Você já deve ter lido isso em algum lugar: a maioria dos homens e mulheres de sucesso começam seus dias cedo. Assim, essas pessoas têm mais tempo para sentar, pensar e planejar as próximas horas. Acordar cedo pode deixá-lo mais calmo, criativo e com uma mente mais livre para pensar no dia que está por vir. Estudos mostram que conforme o dia vai passando o nível de energia diminui, o que afeta a produtividade e, por consequência, sua performance no trabalho.
Faça pausas:
Quando você achar que está em um beco sem saída, ou quando olhar para as diversas abas abertas no seu computador e não saber mais onde clicar, permita-se uma pausa. Vá pegar um café, um copo de água, troque ideias com um colega ou escute uma música.
Aprenda a dizer não:
Talvez essa seja a regra de ouro e aquela que deve ser adotada por todos. Caso você já se veja sobrecarregado, saiba dizer um “não” de maneira educada, explicando seus motivos. Antes de sair pegando todas as tarefas ou projetos que passarem na sua mesa, dê uma olhada na sua to-do list. De nada adianta assumir mais responsabilidades se você terá que deixar algo de lado, certo?
Depois destas dicas, o tempo definitivamente será um aliado, e não mais um inimigo. No que diz respeito ao filme desta coluna, para os menos ligados, Náufrago funciona perfeitamente como uma aventura dramática sobre como sobreviver aos perigos de uma ilha deserta. Para os administradores de plantão, Náufrago é uma história sobre os efeitos não do tempo em si, mas sim sobre os impactos de não se controlar sua passagem, e em como esta falta de controle acarreta um alto custo em nossa produtividade, e por consequência, em nossas vidas.
Náufrago está disponível para o mercado de Home-Video e canais por assinatura.
Fonte http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/naufrago-controle-o-tempo-ou-ele-controlara-voce/114364/

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