por Anderson Silva
O que faz 3,7 milhões pessoas se mobilizarem para ouvir o que um líder tem a dizer? Ou mais de 60 mil pessoas trabalharem como voluntárias na organização de um evento? O que é capaz, enfim, de atrair esse exército de seguidores? A resposta não é simples, porque o caso em questão diz respeito a algo intangível – a fé –, mas há uma qualidade de interlocução sem a qual esse movimento não teria ocorrido: o carisma do atual chefe de estado do Vaticano, o papa Francisco. A Jornada Mundial da Juventude, na cidade do Rio de Janeiro, reforçou para o mundo a força desse líder espiritual.
De origem grega, carisma significa “dom de inspiração divina”; a pessoa nasce com ela. No mundo corporativo, entretanto, há quem acredite que é possível com treinamento desenvolver essa característica. Uma grande aliada, nesse caso, é a literatura. Carlos Wizard Martins, presidente do Grupo Multi (redes de ensino de idiomas Wizard e S.O.S Computadores) encontrou nos livros a motivação para aprender a liderar com carisma. Numa época em que morou nos Estados Unidos, explica, formou uma biblioteca sobre relacionamento humano, técnicas de liderança e finanças. “Eles me deram a direção para me tornar um líder e me iniciar como empresário.”
Wizard se considera um líder carismático e acredita que sem carisma é difícil liderar e inspirar pessoas. “O líder precisa ser o principal motivador daqueles que estarão sob sua gestão”, diz. Os liderados, diz ele, são altamente influenciados pelos líderes e suas atitudes refletem a liderança. “Se você se apresenta cabisbaixo, abatido, mal-humorado, seus liderados vão agir da mesma maneira; se tiver energia e entusiasmo, contagiará a todos”, diz.
Outra importante qualidade da pessoa carismática é a capacidade de saber ouvir e compreender as necessidades dos colaboradores. “Procuro sempre me manter próximo aos meus funcionários, me interesso pela história de cada um”, diz Sidney Oliveira, proprietário da Ultrafarma, uma das maiores redes de drogarias do País.
Garoto-propaganda da marca, além de dono, Oliveira diz que o carisma está na capacidade de o líder mostrar que tem os mesmos interesses que sua equipe e está batalhando junto dela para alcançá-los. “As pessoas são mais motivadas pela valorização, pelo reconhecimento e pela oportunidade de crescimento profissional do que somente pela remuneração”, diz.
Outros empresários, como o brasileiro Silvio Santos e os norte-americanos Steve Jobs e Jack Welch, são tidos como exemplos de líderes carismáticos que conseguiram usar esse dom para prosperar nos negócios. A psicóloga Stefania Lins Giannon, especialista em desenvolvimento humano e diretora da SLG Desenvolvimento de Pessoas, diz que profissionais como essas são referência para os seguidores e um exemplo de coerência entre discurso e prática. “Quando conduzidos por um líder que é comprometido, que valoriza e procura atender as necessidades, os liderados se sentem estimulados a seguir o exemplo; um líder carismático empolga e energiza a equipe”, diz.
Ela cita o exemplo do empresário Antônio Ermírio de Morais, presidente do conselho do Grupo Votorantim. Para Stefania, Morais é um exemplo clássico de líder carismático. “Ele tem visão e consegue partilhá-la com clareza, levando os seguidores a identificar-se com sua ideologia.” O risco, nesse caso, é o colaborador endeusar o líder e perder a capacidade de crítica. Por isso, uma qualidade importante do líder carismático é permanecer atento ao seu desempenho e, quando errar, assumir o erro, mostrando à equipe humildade e discernimento. “O bom líder incentiva a autogestão, em que o colaborador, na medida do possível, avalia se a orientação do líder atende aos interesses da empresa e também contribui para o seu próprio crescimento profissional. Isso é ter carisma”, diz ela.
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