domingo, 30 de junho de 2013

Quer se tornar melhor? Pratique o “flow”


Será que em algum momento de sua vida, você estava praticando algo com um grau de concentração tal, que você se sentiu “isolado” do mundo? Ou seja, você perdeu a noção do tempo, de si mesmo, das coisas ao seu redor, não escutou o telefone tocar ou qualquer outra coisa que lhe desviasse a atenção? E esse estado independia daquilo que você estivesse fazendo como, por exemplo, ler um livro, realizar uma tarefa, namorar ou jogar xadrez? E, ao concluir o que estava fazendo, todo o seu Ser se encheu de satisfação, prazer e felicidade a ponto de estufar o peito e exclamar: VALEU A PENA?
Pois é. Este estado foi descrito pelo psicólogo húngaro Mihaly Csikszentihaly e recebeu o nome de teoria do “flow”, onde a pessoa entra em um estado mental comfoco e concentração máximos tornando a execução de uma tarefa muito mais espontânea e natural. Em Português, “flow” significa Fluxo ou estado de imersão total.
Para o autor, tal estado só é obtido quando existe um EQUILÍBRIO entre o grau de dificuldade da tarefa e as habilidades individuais para realizá-la.
Se a tarefa oferece pouco ou nenhum desafio, ou seja, a competência da pessoa é maior que o desafio, certamente ela sentirá tédio, apatia, desinteresse e relaxamento, e poderá não realizá-la. Por outro lado, se a competência da pessoa for menor que o desafio, ela se sentirá ansiosa, preocupada, agitada e estressada e, também, poderá não realizá-la.
“O estado de “flow” é uma experiência subjetiva específica na qual as pessoas são colocadas quando estão completamente engajadas naquilo que têm interesse e envolvimento, independentemente se ela for artista, pintor, atleta ou esportista de alto desempenho, não importando o local onde estejam. As pessoas não se distraem, ficam absorvidas naquilo que estão fazendo e o fazem sem se forçar para fazê-lo”, afirma Mihaly.
Em síntese, o estado de “flow” é a realização de uma atividade onde haja, repito,EQUILÍBRIO entre desafio e habilidades e onde esta situação acabe transformando o trabalho em diversão , independentemente do tempo para sua realização.
Neste estado, o engajamento é tal que, além de não se sentir o tempo passar, também são ignoradas sensações de fadiga, dor, fome, sede, perda da consciência do mundo exterior e até do próprio ego. Pessoa e tarefa se fundem em algo único durante a sua realização.
É neste estado que a pessoa concentra todas as suas energias para a realização da tarefa e dá o melhor de si para realizá-la. É neste estado que se vivencia o aqui e agora, o momento presente. E, é nestes momentos, que seu pensamento, movimento e ação fluem de forma natural.
Entretanto, para se atingir tal estado, algumas considerações são importantes:

1 – autoconhecimento

Importantíssimo, pois é fundamental que a pessoa saiba, realmente, o que gosta e o que ama fazer. Aquilo que não deixa os seus neurônios em paz, o que a instiga, o que lhe é significante. Tudo isso favorece a pessoa a atingir o estado de “flow”, imersão total, para a realização da tarefa.

2 – vocação

Do latim vocare, significa um chamado ou sua voz interior. Robert Wong diz que: “para aqueles que encontram sua vocação por meio do autoconhecimento, o universo celebra e conspira a favor”.
E quem descobre e segue sua vocação
  • está sempre feliz com o que faz, pois encontrou significado para sua atividade;
  • não trabalha, se diverte, pois encontrou a razão, ou razões, para tal;
  • tem sempre um brilho no olhar, desde o início até o final do seu trabalho;
  • nunca está cansado, está sempre disposto física e mentalmente;
  • renuncia a muitas coisas para ser feliz. Como Sidarta Gautama, o Buda, que renunciou a toda a sua riqueza para divulgar suas ideias e sua filosofia de vida;
  • está sempre automotivado e tem energia para vencer e superar os mais difíceis obstáculos e desafios;
  • enfim, quem segue sua vocação, descobre sua missão de vida, o porquê de estarmos neste mundo e fazendo aquilo que escolhemos fazer e que nos dá prazer e nos deixa felizes.

3 – missão

Do latim mittere, significa enviar. Wong afirma que “chegar à missão equivale a atingir a autorrealização. Todos fomos enviados à Terra para cumprir nossa missão que é realizar nosso verdadeiro potencial, assumir nossa responsabilidade e, assim, ajudar a fazer esta mundo melhor do que o encontramos”.
Quando realizamos nossa missão, não apenas nosso corpo e nossa mente ficam envolvidos, mas também nossa alma. Nós a realizamos com verdadeira paixão e engajamento pleno.
Por isso, Cyro Martins diferencia comprometimento de engajamento: comprometimento é apenas fazer a tarefa; engajamento é realizar a tarefa com alma, com paixão.

4 – motivação

Existem, basicamente, dois tipos de motivação, a intrínseca e a extrínseca, cada uma com seus fatores desencadeantes.
No caso do “flow”, a motivação é intrínseca, onde a pessoa, comprometida apenas com ela mesma, vivencia aquele estado de prazer e satisfação plenos. Ou seja, a motivação é de dentro para fora.
Claudio Tomanini afirma que “motivação não é algo que se dá, é algo que se tem” e ela se encontra nas respostas às seguintes perguntas:
  • o que é que me motiva?
  • será que eu acordo fazendo aquilo que eu gosto de verdade?
  • no que é que sou apaixonado?
A motivação intrínseca nos impele para a ação e esta se relaciona diretamente ao autoconhecimento, à vocação e à missão.
Falta, ainda, um último ponto a ser abordado: o conceito de personalidade autotélica, também desenvolvido por Mihaly.
Ele ensina que “a realização e sucesso são duas coisas diferentes. A realização vem de dentro e se orienta para um fim que propicie a pessoa se colocar. Daí a palavra autotélico, significando um fim (telos) que o próprio indivíduo se impõe. O sucesso, ao contrário, se orienta para fora, para aquilo que irá impressionar os outros, conforme seus julgamentos”.
Aqueles que possuem este tipo de personalidade, que atingem com facilidade o estado de “flow”, são pessoas que vivem com pouco ou muito pouco no que diz respeito ao seu conforto, poder, fama, entretenimento e bens materiais, além de serem mais autônomas e independentes.
E Mihaly segue ensinando: “pessoas que possuem essas características não se sentem ameaçadas ou seduzidas por recompensas externas. Ao mesmo tempo se envolvem mais com tudo ao seu redor porque estão totalmente imersas na corrente da vida.”
Seus pontos em comum são: envolvimento, entusiasmo, engajamento, sentimento de pertencer, motivação intrínseca, presença e ambição.
Se você pratica o “flow”, o estado de imersão total, em todas as áreas da sua vida, certamente você saiu dos “comos” e chegou aos “porquês”, independentemente de qual área você está atuando, seja ela física, emocional, intelectual, profissional, financeira, lazer, relacionamentos (inclui a família) ou espiritual.
Quando encontramos prazer e satisfação em tudo que realizamos, não importando o momento ou a complexidade, estamos tendo a oportunidade de crescermos como Seres Humanos Integrais e chegamos a um estado de felicidade real e não imaginária ou passageira.
E quem foi que não nasceu para ser feliz?

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