quarta-feira, 3 de abril de 2013

Balanço negativo de ideias


Imaginemos uma sociedade na qual o aperfeiçoamento técnico substitui a reflexão e o diálogo humanos. Isto por que, regidos pela precisão de números e controles virtuais, os executivos autômatos têm a garantia de controle absoluto dos negócios. Não precisam de opiniões e ideias alheias nem mesmo das próprias. Eles administram “empresas touches” a distância, protegidos e isolados em bolhas de excelência. A perfeita integração técnica garante um caminho seguro. Até que alguém desvia o olhar da tela mágica do computador, sacode o silêncio e pergunta: “- Onde está a inteligência do negócio? Não podemos fazer diferente?”,
Por analogia, essa situação hipotética leva-nos a questionar a rotina empresarial de nossos dias. Fazemos questão de aprender, em publicações especializadas, palestras e workshops, como nos relacionar com as pessoas e motivá-las ao diálogo. Entretanto, é raro pararmos para observar o que ocorre na prática.
Até que ponto o ambiente corporativo incentiva o diálogo com “D” maiúsculo? Como dizia Nietzsche: Quem realmente promove uma boa conversa como produto de uma relação na qual uma pessoa “procura um parteiro para os seus pensamentos”?
Peguemos como exemplo as reuniões gerenciais. O que é uma reunião produtiva? Cumprir a pauta preestabelecida. Se este for o resultado, o encontro é considerado válido. A reunião é concluída e os temas tratados são dados como esgotados. Todos voltam para suas bolhas de controle, checam e acompanham as informações de mercado e planilhas internas. E assim a vida continua até o próximo encontro.
A condução e o caráter inconsequentes das reuniões levam-nos à percepção de que trabalhamos em uma lâmina de superficialidade que conduz os encontros a caminhos que postergam as mudanças. Periodicamente, reunimo-nos e abordamos vários assuntos, mas não entramos na profundidade, no âmago do problema. Ficamos na periferia. Cumprimos o dever técnico da “reunião produtiva”.
Faltam conversa e troca descompromissada das matérias-primas do diálogo, ou seja, percepções e pensamentos. Estas práticas permitem-nos levantar novos pontos de vista, rediscutir a pauta estabelecida e pensar sobre o que pode haver por trás dos números que desejamos comemorar. O diálogo cria um ambiente de incentivo à exposição de ideias, capaz de levar-nos a uma leitura das consequências de tomada de decisão, mudando o rumo de acordo com novas tendências e seus prováveis desdobramentos.
Assim como em nossa história hipotética, é preciso quebrar o silêncio, fazer do questionamento, produto do pensamento, o imperativo da rotina empresarial. A despeito da segurança prometida pela tecnologia, retomemos a ideia clássica de Leonardo da Vinci, que acreditava que “quem pouco pensa, engana-se muito”. Evitemos enganos, somando a integração humana à integração técnica.
E respondendo a pergunta inicial de nosso questionador imaginário… A inteligência está em nós e, então, podemos fazer diferente!

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