sábado, 23 de fevereiro de 2013

Desafio do Brasil: Falta gente para transportar a produção


O desafio da logística brasileira vai além da infraestrutura nos portos, rodovias e ferrovias. Especialistas e representantes do setor destacam que a falta de mão de obra especializada limita a expansão das atividades e gera um agravante no desafio de escoar a safra 2012/13. O problema é considerado antigo, mas está sendo potencializado com a nova lei dos caminhoneiros, que regula a jornada dos profissionais e demanda mais trabalhadores.
Gilberto Cantú, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar) explica que as empresas têm duas alternativas para seguirem a nova legislação. A primeira é programar paradas em pontos estratégicos. A segunda é trafegar com dois motoristas, em rodízio, o que gera mais despesas. "No primeiro caso a produtividade cai 30% e no segundo é necessário um repasse do custo adicional", destaca. Ele salienta que as duas situações exigem mais trabalhadores nas transportadoras.
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) estima que existe um déficit de aproximadamente 50 mil motoristas de carga no país. Para Daniel Furlan Amaral, gerente de economia da instituição, o fato tem elevado o preço do frete. "Em alguns casos a alta foi de 40% desde junho do ano passado, e com a demanda crescente pode subir ainda mais", pontua.
Daniela Bartholomeu, que integra a equipe técnica do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Esalq-USP, avalia que uma das explicações para a falta de trabalhadores é a desvalorização da profissão. "É algo cultural, os motoristas de hoje não querem o mesmo futuro para os filhos. Isso tem feito com que os jovens não tenham interesse em investir nessa carreira", pontua.
A falta de gente é um problema que também atinge o modal ferroviário. A Confederação Nacional do Transporte (CNT) calcula que serão necessários pelo menos 400 engenheiros ferroviários nos próximos anos. Na operação também existe demanda. A América Latina Logística (ALL) capacita internamente cerca de 400 maquinistas por ano para manter e ampliar as operações. Melissa Loqueta, gerente de gente da empresa, explica que o período de formação dos profissionais é extenso, o que exige planejamento prévio. "Para a safra deste ano começamos os treinamentos em setembro do ano passado", diz.
Apesar dos efeitos imediatos serem negativos, Daniela pondera que a nova lei pode ser benéfica no futuro. "Mesmo com esse viés negativo agora, a regulamentação pode estimular a volta dos profissionais", conclui.
Programas tentam qualificar trabalhadores - Fabiel Sales passou os últimos três anos trabalhando como operador de produção da América Latina Logística (ALL) em Ponta Grossa. Seu papel era colaborar na manobra dos trens que chegavam aos pátios da empresa. Agora ele frequenta a sala de aula e se prepara para virar maquinista.
O curso frequentado por Sales é promovido pela própria ALL e foi a solução encontrada pela empresa para amenizar o problema de falta de mão de obra qualificada. Melissa Loqueta, gerente de gente, relata que desde 2001 são formados cerca de 400 maquinistas por ano e que todos são absorvidos pela própria companhia. Treinamento semelhante também é promovido visando a formação de caminhoneiros.
O Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) promovem gratuitamente um curso de 160 horas voltado à capacitação dos profissionais para o transporte de cargas. "Há lista de espera para as matrículas e cerca de 80% dos participantes saem empregados", diz Rodrigo Battiston, gerente de uma das unidades do Sest em Vitorino.

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