Presente no mundo desde o tempo que o homem habitava as cavernas, o estresse não escolhe sexo, religião, faixa etária, nacionalidade ou naturalidade. E a coisa é tão séria que a ONU o rotulou como “a doença do século XX” e a Organização Mundial de Saúde a ele se refere como “a epidemia do século XXI”.
Mas voltemos um pouco naquele tempo onde o homem tinha que sair da caverna para caçar e garantir a alimentação da sua família.
Naquela época, o estresse funcionava como uma arma para a sobrevivência do homem frente aos “agentes estressores” representados por lobos, ursos e tigres dentes-de-sabre.
Passados alguns milênios, estes “agentes estressores” mudaram de animais para os problemas do cotidiano: trânsito, filas, filhos adolescentes, aviões que atrasam, violência urbana, etc. Isto sem contar uma outra quantidade destes “agentes” presentes no ambiente de trabalho.
Os agentes estressores mudaram, mas as reações que ocorrem no organismo humano permanecem as mesmas.
Veja um exemplo dos nossos dias.
Fulano (ou Fulana) levanta-se após uma noite mal dormida pensando no relatório que precisa ser entregue às 10 da manhã. Liga o rádio para escutar as primeiras notícias do dia e fica sabendo que as ações da companhia onde trabalha tiveram uma alta acentuada na Bolsa de Valores em função de boatos sobre uma possível venda a um grupo que atua do outro lado do mundo.
Ele fica imaginando que sua área poderá sofrer mudanças ou que poderá ser despedido.
Sai de casa tendo que enfrentar um trânsito de, pelo menos, uma hora, até chegar ao seu local de trabalho.
Tão logo chega ao escritório, enfrenta o burburinho da rádio-peão a respeito das notícias escutadas no rádio.
Senta-se para terminar o relatório, liga o computador e…o sistema não responde.
Enquanto isso o tempo vai passando…, passando…, e o estresse vai aumentando.
Enfim, acredito que situações semelhantes já devem ter acontecido com você ou com alguém que você conheça. A verdade, caro leitor ou leitora, é que todo Ser Humano está vulnerável frente aos agentes estressores presentes no cotidiano de cada um.
Mas, afinal, o que é o estresse?
O pioneiro, o “pai” do estresse da era moderna foi Hans Selye, que começou suas pesquisas nesta área, por volta de 1930. E é dele a definição clássica de estresse: “é a resposta do corpo a qualquer demanda, quando forçado a adaptar-se à mudança”.
Atualmente existem inúmeras definições, mas eu, particularmente, gosto daquela elaborada por Marilda Lipp (1996):
“Estresse é uma reação do organismo causada por alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz”.
Inicialmente ele não é doença, mas uma preparação do organismo para lidar com diferentes situações. É uma resposta do organismo a um determinado estímulo e que varia de pessoa para pessoa naquele determinado momento.
Imagine-se de frente a um agente agressor, como por exemplo, fazer uma visita profissional a um cliente em um momento de trânsito intenso. Certamente você já começa a pensar que vai chegar atrasado, com sérias consequências, tais como, o cliente reclamar a seu superior pelo atraso, perda da comissão da venda, “queimar o seu filme”, etc. A partir daí, sua respiração se altera, o coração bate mais rápido, você começa a transpirar..
E tudo começou com um simples pensamento. Esta é razão de gostar da definição de Lipp. As alterações começam no “psico” e descambam no “fisiológico”; daí alterações psicofisiológicas e não fisiopsicológicas.
O que precisa ser entendido é: os agentes estressores estão no ambiente e no cotidiano de cada um, fora de nós. Mas as reações psicofisiológicas (as respostas a tais agentes) estão dentro de cada um de nós. Ou seja: fatos são fatos; a interpretação e as reações deles decorrentes dependem de cada indivíduo.
Para a Dra. Susan Andrewa, “a maior parte do nosso estresse é mental… e não vem de ameaças às nossas vidas, mas sim aos nossos egos, à nossa autoimpotância. O nosso estresse é mental e social”.
Ninguém consegue viver sem uma dose de estresse. Exceto os mortos. Estes não podem reagir ao mundo que os rodeia ou ao seu mundo interior, como afirma Donald Weis.
É por isso que um agente estressor (fato, situação) pode causar um estrago grande em uma pessoa e não produzir nenhum efeito em outra.
Outro ponto importante: o que lhe pode ser altamente estressante em uma fase de sua vida, poderá não sê-lo em outra. E, se você observar bem, veja que as pessoas com mais idade são mais calmas e tranquilas que as pessoas mais jovens.
Avulnerabilidade e a capacidade de adaptação de cada Ser Humano são importantes na ocorrência e gravidade das reações aos agentes estressores.
Fontes básicas do estresse
Todo fator responsável por uma mudança pode ser considerado como um agente estressor.
Veja alguns exemplos:
- guerras;
- violência urbana (assalto, sequestro, sequestro-relâmpago);
- terremotos, tufões, tsunamis;
- luto, perda de um ente querido;
- problemas de relacionamento com a família;
- lidar e conviver com pessoas que tenham algum vício (alcoolismo, drogas);
- preocupações com a saúde ao se ficar velho;
- conflitos no trabalho;
- aposentadoria e o que fazer depois dela;
- problemas financeiros;
- conseguir atingir seus objetivos;
- uma promoção inesperada no trabalho;
- um novo amor.
Cabe aqui um parênteses. Como a maior parte das pessoas ficam o maior número de horas do seu dia no trabalho, este ambiente é uma fonte inesgotável de estresse.
Muitas pessoas me perguntam quais as principais causas do estresse no trabalho. Para responder a esta questão, elaborei a apresentação abaixo.
De uma forma geral, existem três molas propulsoras de mudanças: tecnologia, informação e pessoas.
1 – Tecnologia
Para o filósofo Mario Sergio Cortella, vivemos a “era do miojo”, tudo rápido, em poucos segundos: relacionamentos-miojo, educação-miojo, satisfação-miojo…
Parece que, atualmente na Vida, as mudanças ocorrem em espaços de tempo cada vez menores, mas sua percepção pelas pessoas, e consequente adaptação, não ocorrem com a mesma velocidade. Quando elas se adaptam a uma mudança e respiram aliviadas, outras já estão acontecendo.
Computadores, smartphones, tablets, iphones e toda a parafernália tecnológica contribuem para que tudo caminhe mais rápido.
Para Theodore Zeld “a tecnologia tornou-se um rápido batimento cardíaco, comprimindo o trabalho doméstico, viagens, entretenimento, espremendo-os mais e mais dentro do mesmo tempo alocado”.
Já Larry Rosen, um especialista na relação ser humano – tecnologia, esta faz com que “façamos cada vez mais coisas, nos deixa mais irritados do que nunca e nosso tempo é cada vez menor”.
O technostress é o mal pós-modernidade, como relatado pela Dra. Suzan Andrews.
E este é um grande paradoxo, pois a tecnologia deveria vir a nosso favor facilitando nossas vidas, e não o contrário.
2 – Informação
No livro Stress no trabalho, os autores Price Pritchett e Ron Pound afirmam que houve mais informação produzida em 30 anos, entre 1965 e 1995, do que foi produzido no período entre 3000 a. C. até 1965.
A grande maioria das pessoas é bombardeada diariamente pelo excesso de informações que lhes chegam através da televisão, internet, rádio, jornais e revistas. Tanto isto é verdade que existe a chamada síndrome do excesso da informação, a qual me referi no texto Você sabe? S.E.I.
A Dra. Sandra Andrews relata que um estudo realizado pela Britain’s Banchmark Research, com 1300 executivos em cinco países, mostrou que 4 entre 10 deles sofriam desta síndrome.
Concordo que a informação é importante porque faz com que as pessoas se tornem mais capazes de gerar mais e maiores mudanças. Entretanto, fica o alerta do neurologista Cláudio Guimarães: “para que o cérebro seja capaz de captar e armazenar as informações que recebe, ele precisa de um tempo, como uma espécie de digestão. O excesso de estímulos não metabolizados pode ser nocivo porque as pessoas tendem a perder a noção do sentido de suas vidas”.
3 – Pessoas
Nesta terceira mola propulsora, talvez a mais importante, residem os porquês de mudanças cada vez maiores.
Desde que o homem apareceu na face da Terra, a população mundial não chegou a 1 bilhão de pessoas até 1860. Setenta e cinco anos depois, a população chegou a 2 bilhões de pessoas. Em 1975, éramos 4 bilhões e, neste quase 40 anos (estamos em 2012), somos 7 bilhões, sendo que, para 2040, seremos 10 bilhões.
Então, imagine, caro leitor e cara leitora: cada vez mais mudanças serão geradas de forma cada vez mais rápida. Ou seja, pessoas e os ambientes onde vivem estão tornando o Mundo mutável, instável, inconstante, desafiador e… estressante.
Agora, necessito de sua atenção. Se as mudanças causadas por estas três fontes estão intimamente relacionadas ao estresse, fica o alerta:: a Vida pode ficar bem pior a cada dia que passa.
Neste jogo da Vida, é o Mundo que dá as cartas. Caberá a cada um de nós analisá-las e planejar a próxima jogada.
E, para isso, lembre sempre da frase de Charles Darwin: Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.
Tipos de estresse
Basicamente existem dois tipos de estresse: o negativo, denominado distresse (do latim dis – mau, desarmonioso, em desacordo) e o positivo, denominado eustresse(do grego eu – relativo a bem, bom, belo), como relata Barry Lenson.
O primeiro pode apresentar duas formas.
Uma aguda, geralmente mais intensa e de curta duração, onde as respostas orgânicas voltam à normalidade após um período curto de tempo. Exemplos: uma perda (de um ente querido, do emprego), não passar no vestibular, ficar preso no trânsito quando se tem um compromisso, etc.
A outra é crônica e, geralmente, é a que afeta a maior parte das pessoas. Por ser menos intensa e de maior duração, é a responsável pelas manifestações patológicas (doenças). Exemplos: conviver diariamente com uma pessoa autoritária, visitar clientes chatos, ser obrigado a fazer o que não gosta, etc. É um pouco de estresse hoje, um pouco amanhã, outro pouco depois de amanhã… e assim vai até que as manifestações psicofisiológicas começam a se manifestar.
O Dr. Kenneth Cooper afirma que o distresse pode representar uma grave ameaça à saúde, com consequências graves tanto para o corpo quanto para a mente. E acredita, assim como outros tantos médicos, que o distresse reside no âmago de inúmeros problemas de saúde.
Para a grande maioria das pessoas, quando se referem ao estresse ou se dizem estressadas, provavelmente estão se referindo a este tipo de estresse, seja na sua forma aguda, seja na sua forma crônica.
O segundo tipo de estresse, o eustresse, está intimamente ligado a situações prazerosas e com retorno agradável. Podem servir de exemplos uma promoção inesperada, iniciar um novo relacionamento amoroso, vencer o campeonato, ter alcançado êxito no trabalho, etc.
Um determinado agente estressor, representado por um fato, um acontecimento ou uma situação, pode gerar um estresse negativo (distresse) ou um estresse positivo (eustresse) e cujas reações podem ser as mais variadas.
Barry Lenson, em seu livro Viva o estresse, enumera sete leis do estresse bom ou ruim e sugere a seguinte check list.
Não existe maneira de se levar uma vida “sem estresse”, a não ser que você morra.
O estresse é fundamental e necessário para que o Ser Humano cresça e se desenvolva. E isto se consegue com uma mudança de atitude mental.
Infelizmente não conseguimos mudar os fatos, acontecimentos e situações ruins do cotidiano, mas em vez de se deixar levar por reações negativas, podemos ter uma atitude que gere reações positivas. Em vez de sucumbir, “ressuscite” e siga em frente.
Vou lhes contar um caso ocorrido comigo.
Estava, um dia, em uma fila para pagar algumas contas em uma agência bancária. Atrás de mim estava um motoboy com uma pilha de contas a pagar. Só que a fila estava andando muito devagar.
De repente, esta pessoa começou a praguejar, reclamar e falar alto. E realmente começou a incomodar todas as pessoas do entorno.
Com relação a mim, imagine. Além de reclamar com um volume que mais parecia o alto-falante de um trio elétrico, ainda recebia, de graça, o bafo no meu pescoço. Coisa nada agradável.
Quando ele viu que a sua raiva não fazia a fila andar mais depressa, aproveitei o seu cansaço bucal, virei-me para ele e, em um tom mais alto, falei:
- Se você está com tenta pressa, por que você não vai a outra agência?
E quando ele ia falar algo, emendei:
- Seus pais lhe esperaram nove meses. E, certamente, não reclamaram.
Todos riram e ele resolveu ficar quieto.
Não devemos esquecer que cada Ser Humano é único, indivisível, um indivíduo, a começar pela sua impressão digital. Além disso, cada um é possuidor de crenças, princípios, valores, hábitos e padrões de comportamento.
Por isso, duas observações são importantes:
- todo este conjunto faz com que cada indivíduo reaja de forma positiva ou negativa a um determinado agente estressor (fato, situação ou acontecimento); a reação é individual; e,
- o mesmo agente estressor pode gerar uma determinada reação em uma fase da vida e não mais causar a mesma reação em outra fase da vida da mesma pessoa.
Em síntese: o fato é o fato. O que varia é a atitude que vamos ter frente a este fato. Vamos nos deixar dominar pelas reações negativas ou vamos superá-las?
E, é claro, isto acaba sendo uma escolha individual baseada nas características de cada pessoa.
Considerando-se que o estresse não é gerado pelo mundo exterior, mas é uma condição do nosso EU interior, caberá a cada um de nós nos deixarmos enfraquecer e ficarmos doentes ou nos fortalecermos para seguir adiante no nosso viver.
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