sexta-feira, 29 de junho de 2012

Coração e cérebro: ligações fortes e úteis


Autor do Artigo: Mario Henrique Martins –http://www.mariohenriquemartins.com.br
O coração influencia o cérebro e portanto a nossa forma de pensar e sentir. O que era uma intuição milenar sobre o papel do coração nos sentimentos agora é um consenso científico graças à cooperação entre a neurociência e a cardiologia. Um novo campo surgiu nos últimos 20 anos: a Neurocardiologia. Do ponto de vista prático o que me parece muito útil a respeito disso é que é  possível usar o coração como ferramenta para gerenciar nossas emoções e regular nossa capacidade de raciocinar. Usar o coração para aumentar a performance emocional e cognitiva?  É isso mesmo. Já em 1906[i] havia a noção de que tanto as emoções influenciam o coração como o batimento cardíaco podia induzir emoções. Nos anos 60 e 70 um casal de cientistas investigou a intensa comunicação de mão dupla que ocorre entre o cérebro e o coração. John e Beatrice Lacey perceberam que o coração influenciava o funcionamento do cérebro, inibindo ou facilitando a atividade de certas regiões de nosso “computador central”, e criaram as bases para que outro grupo reconhecesse que o coração, além de uma bomba incrível, possui milhares de neurônios, produz neurotransmissores e merece o status de um “pequeno cérebro”[ii]. O coração tem ritmos que são analisados pelo cérebro em tempo integral. O coração atua como um “conselheiro ouvido com muita atenção pelo cérebro”. Seus ritmos[iii] dão pistas decisivas ao cérebro em relação a como se configurar para lidar com o mundo. Sem entrar em muitos detalhes, nosso coração não bate em um ritmo monótono ou fixo. Ele varia. Quando inspiramos, repare que o ritmo acelera e na expiração ele cai. Quando estamos relaxados, temos um ritmo cardíaco que sobe e desce de forma repetitiva em torno da média, independentemente do fato do coração bater a 50, 60 ou 80 vezes por minuto, indicando ao cérebro que tudo está tranquilo. Se isso ocorre, pensamos melhor, usamos melhor nossa memória, somos mais capazes de perceber as nossas emoções e as emoções dos outros. Quando ocorre o contrário, quando estamos tensos, mesmo que a média de batimentos não suba muito, o coração bate  variando seu ritmo de uma forma menos harmoniosa, menos coerente como dizem os técnicos. O jeito que o coração sobe e desce assume uma forma de serra sem padrão definido. Quando isso ocorre o cérebro se transforma para uma batalha iminente, onde sabemos que nosso bom senso e autocontrole desaparecem com consequências sempre desastrosas. Para exercitar a capacidade de usar o coração para ajustar estados emocionais/mentais a qualquer momento eu uso, há anos,  um aparelho que permite enxergar esses ritmos no computador[iv]. É muito fácil e rápido mudar o ritmo cardíaco de um serrilhado agressivo para uma sequência de ondas suaves. Com isso é possível recuperar a calma e a objetividade que todos precisamos. Mesmo que você não tenha um aparelho para ajudá-lo a enxergar essas mudanças e treiná-las é possível gerenciar o modo que seu coração bate através de um recurso universal, simples e cada vez melhor compreendido: a respiração. Respirar calmamente provoca uma mudança automática no ritmo cardíaco. É automático. Se você acha respiração algo exotérico e pouco útil para melhorar sua performance profissional, considere que a ciência cada vez mais compreende a razão de sua potência e recomenda o seu exercício como um hábito essencial para a autogestão emocional. Para que o coração bata em um padrão tranquilo, que desarma o cérebro e dá a ele a máxima condição de nos ajudar a pensar, a respiração tranquila é a base desse fenômeno. Pode ser frustrante para quem espera uma sacada altamente tecnológica mas a ciência confirma que a respiração é ferramenta poderosa e acessível para gerenciarmos nossas emoções e melhorarmos nossa performance geral. Respirar com consciência é um hábito central na rota do autoconhecimento. Respire com técnica e o coração automaticamente baterá de forma a informar o cérebro que você pode ser mais humano e menos animalesco naquele momento. Bom para você e todos que o cercam não é?

[i] Ludwig Robert Müller – a pioneer of autonomic nervous system research, Bernhard Neundöfer . Müller foi pioneiro em investigar que as vísceras mandavam sinais para o cérebro e não apenas recebiam instruções dele.
[ii] Muita calma nessa hora. O aparato neurológico embutido no coração não é um cérebro completo mas um sistema nervoso muito sofisticado que se regula sem nenhuma interferência do cérebro, como ocorre nos transplantes cardíacos onde o coração transplantado, com todos os nervos de ligação ao sistema nervoso cortados,  funciona de forma independente.
[iii] Heart-Brain Neurodynamics, Rollin McCraty:  A variável que é estudada aqui é a Variabilidade Cardíaca. Pense que o coração varia seu ritmo a cada batida. Faça a experiência e veja como ele acelera e desacelera em função da sua respiração. Essa é uma variação de ritmo, uma arritmia natural, chamada arritmia sinusal respiratória. Um coração que bate tranquilo apresenta variações que se assemelham a uma onda, repetitivas. Estados ansiosos/ tensos mostram padrões menos suaves e “coerentes”. A Variabilidade Cardíaca mede a qualidade do ritmo cardíaco no tocante a forma que ele varia no tempo. A variação pode ser “coerente”, harmoniosa ou “incoerente”, errática. Estados tranquilos estão associados a padrões coerentes e o contrário também é observado.
[iv] EmWave do Heart Math Institute. É um aparelho de biofeedback que uso há anos e recomendo pela qualidade técnica dos pesquisadores do instituto, recomendados por pesquisadores que respeito como David Servan-Schreiber, que nos deixou ano passado. Veja um grupo de crianças usando em um projeto educacional nos Estados Unidos em http://www.youtube.com/watch?v=-VrNJxJLVnc&feature=relmfu

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