Quatro pesquisadores gringos deram publicidade há alguns anos a uma observação simples, mas valiosa, sobre nossos padrões de comportamento. Basicamente quando estamos ameaçados, em qualquer tipo de situação, recorremos a dois comportamentos: Fuga ou ataque.
Isto é padrão da natureza e não só da espécie humana. Perante uma possível ameaça qualquer animal tende, num primeiro momento, a fugir, a evitar o confronto, mas se este for inevitável ele parte para o ataque. Quem já viu uma galinha brava e encurralada sabe como é.
Só que os animais não sabem dialogar, nós sabemos! Será?
Pois bem, a transposição deste padrão da natureza para o comportamento humano deu origem à expressão Silence or Violence em inglês, que traduzida ao pé da letra significa, como você deve imaginar: Silêncio ou Violência.
Qualquer sujeito que já se esqueceu de uma data importante com a mulher ou que chegou com 20 minutos de atraso para pegar a namorada pra uma festa entende esta teoria.
__ Meu bem, você ficou brava com alguma coisa? Está calada…
__ Eu? Brava? Imagina…
Experimente pisar na bola mais uma vez nesta noite e você corre o risco de ver o silêncio se transformar em violência numa questão de segundos.
Este padrão de se calar ou atacar é algo profundamente enraizado em nós. É um reflexo natural de defesa. Muito útil na natureza selvagem, mas potencialmente prejudicial em uma sociedade de comunicação complexa como a de hoje. Por incrível que pareça, tentar argumentar com um Tiranossaurus Rex poderia ser mais perigoso do que tentar convencer sua sogra de que aquela toalha de mesa não combina com a casa.
O resultado desta tendência é que muita gente evita ter conversas ou diálogos que são cruciais para a saúde emocional, ou pior, os tem de maneira totalmente não assertiva, para não dizer desastrosa.
Se alguém nos contraria muito, se nos sentimos ofendidos, se achamos que fomos enganados ou não gostamos do jeito como falaram conosco, alguns de nós nos calamos, nos fechamos, emburramos, (Silence) enquanto outros partem para o ataque verbal, a grosseria, a ofensa. (Violence). É muito comum também termos as duas reações em momentos diferentes.
Resumindo, nós fazemos de tudo, menos dialogar com maturidade. Menos ter uma conversa aberta, sincera e assertiva. Note que estou falando de momentos tensos, de opiniões opostas, de visões diferentes. Ser gentil e sereno quando tudo vai bem, até eu.
Enfim, você não acha impressionante o fato de desenvolvermos tecnologias extremamente sofisticadas e não termos habilidade sequer para gerenciar nossos conflitos de maneira inteligente? O sujeito é um exímio engenheiro, é a inteligência pura, e é uma mula existencial.
Pois esta constatação, entre outras, foi apresentada no livro “Crucial Conversations”(Conversas Cruciais) dos gringos referidos acima. O livro fez um sucesso tão grande que deu origem a um dos principais cursos de capacitação comportamental utilizados pela Microsoft ao redor do mundo. Tive a oportunidade de participar de uma turma deste curso e posso assegurar que se trata de algo realmente fantástico.
O mérito está em apresentar um método inteligente e muito efetivo para driblarmos esta tendência natural que temos de “Fugir ou Lutar” e conseguirmos ter as conversas que precisamos ter para que nossa vida flua melhor, pessoal e profissionalmente.
Afirmo com alguma convicção que, se você parar para analisar, vai perceber que muitas lembranças ruins de inimizade, chateação, distanciamento ou mágoa que você tem, estão na verdade relacionadas a conversas ou diálogos que você “não teve” ou que teve mas “não conduziu adequadamente”.
A qualidade de nosso discurso e a habilidade de dialogar com sabedoria em momentos de impasse são fatores determinantes para nossa felicidade e sucesso na vida. Vou repetir: São determinantes!
Por isso a partir de hoje iniciarei aqui uma série de artigos baseados em diferentes conceitos apresentados no livro Crucial Conversations, com o intuito de compartilhar com você algumas incríveis técnicas e ferramentas comportamentais descobertas por estes pesquisadores. É conhecimento que pode definitivamente fazer muita diferença em suas conquistas e em sua qualidade de vida.
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