PROCRASTINAÇÃO

JOGUEI TUDO PRO ALTO: Sem tempo para as filhas, a analista de marketing Alessandra Garrido parou de trabalhar por um ano. Depois voltou à labuta, mas com horário flexível
Crédito: Ricardo Corrêa
Crédito: Ricardo Corrêa
Quando estamos sem foco, de fato, tendemos a adiar cada vez mais o que quer que seja. “A procrastinação faz parte desse tédio”, afirma Olgária Matos. “Tanto faz adiar uma coisa ou não. Não tem sentido fazer agora ou depois. O tempo é preenchido com coisas vazias”, diz. A sensação de nada no fim do dia, então, não é descabida, mas uma consequência esperada: de fato, grande parte do que se fez não era significativo.
O diretor de marketing digital João Vargas, 26 anos, do Rio de Janeiro, nunca viu graça nas famosas jornadas noturnas das agências de publicidade. Trabalhando 5 anos em uma, cansou de passar noites regadas a café e Coca-Cola fazendo o que poderia ter sido feito ao longo do dia. “Às vezes eu trabalhava das 7h à meia-noite e parecia que nada tinha sido feito.”
Quando se tornou sócio de uma empresa de marketing online, João decidiu mudar as coisas. Começou a selecionar suas tarefas por ordem de importância e a executá-las com concentração máxima. Para organizar o dia a dia, ele usa um software criado por sua própria companhia, que monitora não somente as atividades dele, como de todos os funcionários. “Posso saber, em tempo real, o que cada um está fazendo e acompanhar sua lista de produtividade”, afirma. O resultado é que os funcionários podem jogar pôquer e videogame na empresa. “Justamente porque eles conseguem se planejar”, diz João. Depois da mudança, ele passou a chegar no trabalho às 10h e sair às 18h todos os dias. Ganhar tempo para curtir a vida, de fato, é uma das melhores consequências de aprender a colocar a atenção em uma coisa por vez.
O diretor de marketing digital João Vargas, 26 anos, do Rio de Janeiro, nunca viu graça nas famosas jornadas noturnas das agências de publicidade. Trabalhando 5 anos em uma, cansou de passar noites regadas a café e Coca-Cola fazendo o que poderia ter sido feito ao longo do dia. “Às vezes eu trabalhava das 7h à meia-noite e parecia que nada tinha sido feito.”
Quando se tornou sócio de uma empresa de marketing online, João decidiu mudar as coisas. Começou a selecionar suas tarefas por ordem de importância e a executá-las com concentração máxima. Para organizar o dia a dia, ele usa um software criado por sua própria companhia, que monitora não somente as atividades dele, como de todos os funcionários. “Posso saber, em tempo real, o que cada um está fazendo e acompanhar sua lista de produtividade”, afirma. O resultado é que os funcionários podem jogar pôquer e videogame na empresa. “Justamente porque eles conseguem se planejar”, diz João. Depois da mudança, ele passou a chegar no trabalho às 10h e sair às 18h todos os dias. Ganhar tempo para curtir a vida, de fato, é uma das melhores consequências de aprender a colocar a atenção em uma coisa por vez.

SÓ O QUE IMPORTA
Quando era sócia de uma agência de design gráfico, a analista de marketing Alessandra Garrido, 38 anos, de São Paulo, corria de uma reunião para outra. Ao chegar em casa, a vida seguia agitada: o marido trabalha no ramo de bares e restaurantes, o que fazia com que o casal tivesse que sair bastante à noite. Quase não sobrava tempo para as duas filhas, hoje com 4 e 6 anos. “Minha vida era uma loucura”, diz. Para fazer uma atividade física, precisava se levantar às 5h da matina. “Eu não ia às aulas de natação das meninas, não buscava na escola, não almoçava junto para ensinar a cortar o bife.”
Foi então que Alessandra resolveu mudar radicalmente. Vendeu sua parte na empresa e tirou um ano sabático, em que se dedicou a alguns cursos livres e à companhia das filhas. Passados 12 meses, ela voltou à labuta. Abriu outra empresa, agora de pesquisa de mercado. A grande diferença é que desta vez não tem sede nem telefone fixo. Cada sócio tem um celular e faz seu horário de acordo com suas prioridades. Com a flexibilidade, ela consegue passar mais tempo com as meninas e investir mais atenção na hora em que está trabalhando, já que não fica pensando no que poderia ou deveria estar fazendo. “Primeiro dei uma freada e, depois, outra velocidade à minha vida. Acaba sendo um carro que consegue andar rápido ou devagar, mas não mais no automático.”
Histórias assim expressam uma mudança de perspectiva. Antes, algumas dessas pessoas olhavam para uma vida superagitada e pensavam no quanto poderiam ganhar com isso. Agora, pensam no que perdem ao viver dessa maneira. “Consideramos mais profundamente o que tem valor para nós e daí surgem novos comportamentos”, diz Linda. Por exemplo, o monotasking. Para a professora de semiótica da USP e pesquisadora do Observatório de Tendências do Ipsos, Clotilde Perez, essa busca pelo foco surge no cruzamento de duas tendências maiores. Uma é nossa necessidade atual de bem-estar. A outra é a de se aproveitar o que as tecnologias têm de melhor, mas sem abrir mão de curtir seu próprio canto. “A sensação de querer dominar o mundo ficou para trás. Estamos menos ambiciosos”, afirma. O que as pessoas buscam, nessa perspectiva, é viver em uma espécie de microcosmos conectado. “Querem criar ovelhas na Irlanda, mas acessando internet no iPad”, diz Clotilde.
Quando o Fabiano, a Alessandra ou o João decidiram se concentrar em uma coisa de cada vez, além de produzir mais e melhor, parte da intenção era ter mais tempo para viver tudo o que se passa em seu próprio universo. O que, nesse mundo superestimulante, é um desafio e tanto, mas que pode ser alcançado passo a passo. Uma coisa por vez. O carioca João Vargas diz que está quase lá. “Não falta muito, ainda vou conseguir. E o meu cachorro, o Shoyu, vai adorar!”
Foi então que Alessandra resolveu mudar radicalmente. Vendeu sua parte na empresa e tirou um ano sabático, em que se dedicou a alguns cursos livres e à companhia das filhas. Passados 12 meses, ela voltou à labuta. Abriu outra empresa, agora de pesquisa de mercado. A grande diferença é que desta vez não tem sede nem telefone fixo. Cada sócio tem um celular e faz seu horário de acordo com suas prioridades. Com a flexibilidade, ela consegue passar mais tempo com as meninas e investir mais atenção na hora em que está trabalhando, já que não fica pensando no que poderia ou deveria estar fazendo. “Primeiro dei uma freada e, depois, outra velocidade à minha vida. Acaba sendo um carro que consegue andar rápido ou devagar, mas não mais no automático.”
Histórias assim expressam uma mudança de perspectiva. Antes, algumas dessas pessoas olhavam para uma vida superagitada e pensavam no quanto poderiam ganhar com isso. Agora, pensam no que perdem ao viver dessa maneira. “Consideramos mais profundamente o que tem valor para nós e daí surgem novos comportamentos”, diz Linda. Por exemplo, o monotasking. Para a professora de semiótica da USP e pesquisadora do Observatório de Tendências do Ipsos, Clotilde Perez, essa busca pelo foco surge no cruzamento de duas tendências maiores. Uma é nossa necessidade atual de bem-estar. A outra é a de se aproveitar o que as tecnologias têm de melhor, mas sem abrir mão de curtir seu próprio canto. “A sensação de querer dominar o mundo ficou para trás. Estamos menos ambiciosos”, afirma. O que as pessoas buscam, nessa perspectiva, é viver em uma espécie de microcosmos conectado. “Querem criar ovelhas na Irlanda, mas acessando internet no iPad”, diz Clotilde.
Quando o Fabiano, a Alessandra ou o João decidiram se concentrar em uma coisa de cada vez, além de produzir mais e melhor, parte da intenção era ter mais tempo para viver tudo o que se passa em seu próprio universo. O que, nesse mundo superestimulante, é um desafio e tanto, mas que pode ser alcançado passo a passo. Uma coisa por vez. O carioca João Vargas diz que está quase lá. “Não falta muito, ainda vou conseguir. E o meu cachorro, o Shoyu, vai adorar!”
Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI269850-17773-3,00-FACA+UMA+COISA+DE+CADA+VEZ+E+SEJA+MULTIPLO.html
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