Embora tenhamos hoje uma grande quantidade de produtoras e o número de filmes rentáveis venha crescendo bastante nos últimos anos, o segmento ainda não é um mercado forte aqui no país

Atraídos pelas boas condições de iluminação natural, produtores de cinema começaram a se estabelecer na região noroeste de Los Angeles, Califórnia, EUA, nas primeiras décadas do século XX. Naquela época, embora ainda desse seus primeiros passos, essa indústria já era muito forte e abrigava disputas homéricas. Com o público crescente, as companhias do setor travaram durante muitos anos uma intensa guerra por patentes, que só amainou quando os principais players entraram em acordo e formaram uma espécie de monopólio com regras bem estabelecidas para garantir a paz. Nascia, então, o primeiro grande consórcio do setor e foi aí que se começou a perceber de forma mais clara o que significava fazer um filme ligado a grandes produtoras e como era diferente tocá-lo de forma independente.
Afinal, como se faz um filme em Hollywood? No Brasil, existem basicamente dois caminhos para se fazer cinema: editais públicos ou Globo Filmes. Embora tenhamos hoje uma grande quantidade de produtoras e o número de filmes rentáveis venha crescendo bastante nos últimos anos, o segmento ainda não é um mercado forte no país e a dependência de verbas públicas ainda é muito grande. Isso envolve uma série de variáveis, que envolvem tanto o histórico de incipiência na produção nacional ao longo da história até a opção por uma visão de cinema menos influenciada pelos ditames dos patrocinadores. Mas isso fica para outra reportagem. Falemos de Hollywood.
Nos EUA, existem também, basicamente, dois caminhos para se fazer um filme: ligado a uma das grandes produtoras ou de forma independente. Mas, ao contrário do Brasil, independente significa mesmo independente, sem governo, sem edital, na cara e na coragem. O brasileiro Frederico Lapenda, que se mudou para os EUA jovem para estudar cinema e hoje atua como produtor independente, explica um pouco como funciona a indústria de filmes no país.
Veja abaixo entrevista que fizemos com ele:
Administradores.com - Lapenda, você foi responsável por algumas grandes produções, que contaram com estrelas do naipe de Nicholas Cage e Danny Glover. Como é fazer cinema de forma independente nos EUA?
Frederico Lapenda - É bem desafiador, porque anexar o ator e levantar o capital é uma tarefa muito complicada. É preciso manter o foco, porque duas curvas à esquerda levam você à direção oposta do seu objetivo. Existem basicamente dois tipos de filmes em Hollywood: os financiados pelos estúdios Fox, Paramount Warner, Universal, etc., e os independentes, que são financiados por produtores que não pegam dinheiro dos estúdios.
E como vocês financiam a produção?
Mesmo os grandes estúdios, nem sempre eles usam seu próprio capital. Eles criam fundos com slots de filmes e levantam o dinheiro em Wall Street. Os produtores independentes captam financiamento de investidores particulares. Isso exige um projeto muito bem elaborado, credibilidade e capacidade de levantar o capital. O grande desafio pra quem começa é criar uma reputação. Para isso, porém, você precisa produzir filmes. E para produzi-los você precisa de dinheiro. É um típico caso de ovo e galinha: algum tem que vir primeiro, mas você precisa dos dois.
E como se dá a remuneração nesse tipo de produção?
Os produtores que trabalham nos filmes dos estúdios têm um salário maior, já que ganham uma porcentagem do orçamento do filme.
E como os dos estúdios têm grandes orçamentos, os valores são altos. Porém, eles não são donos dos filmes e pouquíssimos, no fim das contas, recebem de 1% a 3% de royalties, no máximo. O salário do produtor independente também é uma porcentagem do orçamento. Porém, caso o filme para o qual ele captou e produziu tenha sucesso de bilheteria, ele terá uma boa fatia do sucesso do lucro, pois ele é o dono.
E como é esse trabalho de produzir de forma independente?
O trabalho do produtor independente é comprar um roteiro, anexar diretor, elenco, ator principal etc., e montar um pacote. Em seguida, apresentar esse pacote ao banco que, se aprovado, geralmente empresta 40% do orçamento. Outros 30% vêm em forma de “tax credits”, que são espécies de incentivos fiscais. Estados como Alamba, Nova York, Louisiana e muitos outros tentam atrair a indústria de cinema oferecendo-os. Isso por que foi descoberto que, além de gerar muitos empregos, ser um mega curso profissionalizante e promover a cidade, ter um filme em seu estado significa que cada dólar de fora que é gasto na economia local, quando gira, vira 7 dólares. Hoje vários estados lutam por aquele dinheiro. Os últimos 30% vêm de investidores e fundos que ficam em segunda posição depois do banco. Porém, eles recebem juros de geralmente 5% e ficam donos de uma porcentagem do filme.
Em alguns casos os fundos ou investidores não permitem o envolvimento do banco e financiam todo o filme. Nesses casos, a praxe do mercado é: 50% do filme para o criativo (produtor, diretor, atores) e 50% para o investidor.
Fonte http://www.administradores.com.br/noticias/entretenimento/como-se-faz-um-filme-em-hollywood/117121/
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