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domingo, 9 de junho de 2013

Isso me dá… tique nervoso!

Reunião importante com um cliente, pauta estratégica, decisões de grande repercussão. Mas uma coisa me distrai o tempo todo: a perna do executivo que não para de se mexer, como se tivesse implantando um coelho Energizer que mantém seus movimentos rápidos e incessantes, e que ele parece não notar.
Aula de ioga, uns dois tapetes para a minha esquerda, uma colega pigarreia quase que a aula toda. Sei que não fuma, e não parece estar gripada. E não é a primeira aula que noto isso. Volta e meia perco a minha concentração pelos seus pigarros sem fim.
Encontro com uma antiga colega de trabalho, que não vejo há anos. Ela continua igual, inclusive com seu hábito de querer terminar junto a frase do interlocutor. Não importa o assunto, ou quem quer que seja. No final da frase, lá vai ela tentando acompanhar as últimas palavras do que estou dizendo, como se fosse um eco.
Entrevista com uma candidata em um processo de seleção. Quase não consigo terminar as minhas perguntas, pois a executiva aumenta o tom de voz para se sobrepor na conversa e começar a responder. No meio do assunto, qualquer troca de comentários é rapidamente suplantada pelo aumento do seu volume de voz.
Reunião com um executivo de marketing que está com o cabelo comprido. Ele insiste em falar sobre qualquer assunto com seus dedos nos cabelos, fazendo uma espécie de cacho e um desenho em espiral, como que continuamente acertando o formado do cabelo.
Café da manhã com executiva da área financeira. Ela está sentada de frente para um painel de vidro, atrás de mim. Percebo que seu reflexo parece ser muito mais importante que nossa conversa, pois 80% do tempo ela não está me olhando, mas sim para seu próprio reflexo no vidro.
Entrevista com executivo da área comercial para um processo que estamos conduzindo. A cada pergunta nova que faço, ele fecha os olhos por uns bons 10 segundos e começa a responder. No começo, fico em dúvida se ele está com sono ou passando mal. Depois, parece estar entrando em contato com outra dimensão.
Todos os casos acima são reais, testemunhados por mim. Por mim e por muitos outros, tanto é que a ideia deste texto me foi sugerida por um executivo de São Paulo que ficou muito incomodado com os pigarros de um companheiro de academia. O que me fez lembrar destas e de tantas outras situações. São os chamados tiques nervosos que executivos e executivas desenvolvem, por diversas razões, algumas delas ligadas ao stress decorrente do excesso de trabalho.
Segundo dados do Hospital Albert Einstein, tique é um transtorno do movimento de um ou mais grupos musculares e que se caracterizam por movimentos repetitivos e estereotipados - ou seja, não possuem nenhum significado concreto, e podem ser parcialmente suprimidos pela vontade se o indivíduo se concentrar. São movimentos irresistíveis, em que a pessoa não tem controle dos seus impulsos, e podem ser exacerbados em períodos de mais ansiedade e situações de stress.
Fatores genéticos ou distúrbios bioquímicos à parte, entendo como fundamental que os profissionais desenvolvam métodos de propriocepção ou auto observação, que possam auxiliar na constatação do desenvolvimento de hábitos que podem se transformar em tiques. Além do aspecto ligado ao autoconhecimento, sempre ajuda se pudermos contar com um amigo ou colega mais próximo que nos aponte, de maneira clara e construtiva, sobre eventuais gestos que estamos utilizando como muletas ou de forma inconsciente.
Outro ponto importante é a constatação sobre o período em que desenvolvemos estes tiques, para avaliar se existe correlação com um momento de pico de stress no trabalho, ligado a eventual volume de entregáveis ou exigências acima do que conseguimos tolerar.
Por fim, vale sempre lembrar da importância do equilíbrio entre o excesso de trabalho e os breaks da vida pessoal, que nos permitem baixar o giro, retomar uma postura mais centrada e criar uma atitude mais tranquila em relação aos desafios diários da carreira.
Pois, por melhores que sejam nossas ideias, insights, contribuições e competências profissionais, elas sempre serão impactadas pela lente de como nos portamos, como agimos e que tipo de atitude (focada ou alheia), movimentos (compulsivos ou naturais) e comportamento (estressado ou equilibrado) demonstramos ter.
Conscientemente ou não.

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