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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Como perpetuar uma empresa familiar

Há 48 anos, quando contratei meus primeiros funcionários, jamais imaginei que um dia teria que pensar no destino da empresa, da família e do meu próprio. Como fazer com que as atividades envolvidas naquele sonho juvenil se transformem em uma organização eficaz e lucrativa que se perpetue e transcenda o próprio criador? De acordo com estatísticas do IBGE, quase metade das empresas fecha as portas nos três primeiros anos de existência por falta de planejamento. Todo empresário é obrigado a encarar outra realidade: sua presença na empresa não será eterna e ele precisará preparar o terreno para quando este momento chegar.
No meu caso, esse pensamento ocorreu há 20 anos, paralelamente a outra ideia de deixar um legado para meus filhos e netos. Este legado deveria ser algo de que eles não somente se orgulhassem, mas que servisse como ponto de partida para a evolução e o crescimento de todos. Eu visava estimular uma união familiar que perdurasse por gerações e chegasse a superar outra estatística, a de que apenas cinco empresas sobrevivem de cada 100 abertas ao chegarem na 3º geração. Comecei, então, a preparar o meu sucessor trazendo-o para o próprio universo corporativo. Por que planejar tudo isso com 20 anos de antecedência? Porque experiência não se adquire em MBAs.
É impossível construir um prédio de cima para baixo. Parece óbvio, mas algumas empresas têm ignorado esta lei básica. As fundações de uma obra são a base para um edifício sólido. Sem elas, o prédio vem abaixo quando a estrutura não aguenta o peso. As fundações, numa empresa, são seus valores e princípios; são o ponto de partida, mas não são o suficiente.  Quantos prédios inacabados a gente vê por aí, interrompidos nesta parte inicial do processo de construção?
E o que exatamente deve ser feito para criar um negócio perene? Salvo honrosas exceções, o foco da maioria dos empresários está no difícil processo de vender, produzir e entregar. Esse processo se constitui na locomotiva de crescimento de qualquer empresa, e é natural que todo mundo se foque nele. Mas são os processos de retaguarda, ou BackOffice, que dão sustentação ao crescimento gerado pelas vendas. O problema é que o BackOffice não agrega valor ao negócio numa análise superficial. Falo de setores como Administrativo, Financeiro, Tributário, Trabalhista, DP, Fiscal, Contábil, RH, Infra, TI e Telecom, Motoristas e por aí vai. Eles não têm o glamour que Vendas e Produção tem.
Os políticos já descobriram isso faz tempo. Recapeiam as ruas inúmeras vezes, mas não investem em projetos de saneamento básico, que não aparecem e não trazem votos. Mas tente ver o que acontece numa empresa quando há um problema de encanamento em um banheiro. Parece pouco, mas na prática, situações simples podem se tornar grandes transtornos.
Há 20 anos, eu me deparei com esse impasse. E optei pelo caminho inverso. Investi todos os recursos gerados pela própria empresa no fortalecimento da retaguarda. Hoje atingimos uma excelência nesta área que poucas companhias brasileiras de nosso porte têm.  Operamos de forma totalmente integrada com SAP (líder mundial em ERP) ADP System (líder mundial em Folha), Avaya (líder mundial em Comunicações Unificadas para Call/Contact Center), Salesforce (líder mundial em automação de força de vendas e CRM), Tephra (líder Brasileiro em automação da força de trabalho), isto é, uma parte de nossa estrutura de BackOffice. A este investimento se soma a parte mais difícil: a construção de uma equipe extraordinária.
Resultado desta estratégia: em 2011 crescemos 54% em faturamento, ano passado crescemos 77% em vendas e este ano devemos crescer mais de 100% em faturamento. E somos o único Call Center que figura entre as PMEs que mais crescem no Brasil, conforme a Deloitte. Esses resultados norteiam qualquer processo de sucessão. A opção foi correta. A melhor parte desta história é que sucessão está acontecendo sem sobressaltos. A transição será feita por opção e não fatalidade. Passarei o bastão para meu filho Ron enquanto estou em plena forma física e mental, podendo ainda atuar como conselheiro. Não existe uma fórmula pronta para a questão da sucessão, mas existe um caminho seguro que é investir no próprio processo. Creio que assim tudo se tornará mais fácil para um desafio árduo que muitos empresários têm confrontado há anos: como perpetuar uma empresa familiar.

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