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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Da mão-de-obra ao coração-de-obra


Quando se analisa a evolução do homem, do trabalho e da vida em sociedade, percebe-se que várias eras ou períodos podem ser percebidos: era da caça/coleta, era agrícola, era industrial e era do conhecimento/informação.
Muito aconteceu desde que o Homem saiu das cavernas (caça/coleta), aprendeu a plantar (era agrícola), aprendeu a produzir (era industrial) e chegou aos dias de hoje (era do conhecimento/informação) onde a tecnologia e a informação são duas marcas registradas.
De uma forma geral, o trabalho sempre fez parte do viver humano. Durante as três primeiras eras sua grande força era focada nas mãos de quem trabalhava. O trabalho era muito mais braçal, onde as atividades motoras geravam a energia que fazia o Mundo se movimentar e a Vida seguir adiante. Vão-se os tempos onde as teorias de Taylor e Fayol eram fundamentais.   Com o advento da Era Industrial, vem agregada a ideia de que o capital era muito mais importante que o trabalho. As pessoas eram obrigadas a se envolver muito mais com a execução de tarefas, obrigação a que eram submetidas por pessoas hierarquicamente superiores. Em suma, eram pessoas pagas para trabalhar e não para pensar.
Este fato foi muito bem retratado no filme Tempos Modernos, onde o personagem de Charlie Chaplin era tão “automatizado” apertando porcas, que andava pelas ruas repetindo os mesmos movimentos de quando estava trabalhando e, o pior, sem saber o que estava construindo.
Tal modelo pode ser traduzido na seguinte frase de Henry Ford: “Toda vez que eu preciso de duas mãos para trabalhar, vem junto uma pessoa para atrapalhar”.
É desta época que vem a expressão mão-de-obra.
Trabalho braçal. Mão-de-obra. Pessoas viram “coisas”.
Mas tudo evolui e, lá pelos idos de 1980, onde a tecnologia dá um salto enorme, a vida do Homem e do trabalho toma novos rumos e chega-se à era do conhecimento/informação.
O mundo se conecta e se globaliza. Deixam de existir o tempo e o espaço. A comunicação nos permite falar com qualquer lugar do mundo e a qualquer momento.
Muitos paradigmas começam a ser quebrados (e outros tantos, criados) com a democratização do conhecimento. Enquanto as pessoas passam a ser mais reconhecidas porque seus “chefes” descobriram que “pessoas se tornam melhores porque pensam”, o tempo parece ter acelerado devido à rapidez da interatividade global através de sistemas de comunicação cada vez mais rápido.
Tudo passou a ser on line, para ontem, tudo rápido…, cada vez mais rápido.
Neste cenário, tudo muda muito rápido e, por consequência, necessário se faz que as pessoas acompanhem estas mudanças, tanto nos seus saberes como nos seus comportamentos. Isto é fundamental para que continuem trabalhando em  um mercado global competitivo, instável, inseguro e altamente mutável. Esta pessoa é bem consciente que seu lugar, amanhã, poderá ser ocupado por uma máquina ou um robô. Basta ver a robotização de uma linha de montagem de qualquer indústria automobilística ou a quantidade crescente de caixas eletrônicos em qualquer agência bancária.
Nesta era atual, percebo duas coisas que são extremamente importantes no que diz respeito às corporações e às pessoas.
Com relação às corporações, e partindo do pressuposto que as pessoas quando pensam se tornam melhores, perceberam que seu grande desafio passou a ser o gerenciamento de cérebros, ou seja, através deles obter o conhecimento necessário para desenvolver novos produtos, serviços e processos.
Surge, então, a expressão cérebro de-obra, onde o trabalho tem muito mais características “cerebrais” do que braçais.
Entretanto, a realidade de “expandir o cérebro” em espaços de tempo cada vez menores, tem deixado as pessoas mais estressadas, angustiadas e ansiosas devido à enxurrada de informações a que ela é submetida todos os dias. Para o Dr. Ryon Braga, toda esta quantidade de informação que é produzida todos os dias, está se tornando uma neurose denominada síndrome do excesso de informação.
Com todo este dinamismo do mundo atual relacionado à produção do conhecimento/informação, a pessoa acaba olhando para si mesma e começa a fazer comparações e a achar que as outras pessoas é que sabem mais, tem desempenho melhor, são mais produtivas e reconhecidas, fatores que contribuem para aumentar sua angústia e ansiedade, originando uma série de alterações, principalmente para o nível mental com consequências ruins para os aspectos físico e comportamental.
O medo de ficar desatualizado e a falta de tempo para se atualizarem e se desenvolverem acaba gerando nas pessoas sentimentos de ansiedade e frustração. E isto pode ocorrer tanto pela falta como pelo excesso de informação.
Este tipo de ansiedade, vindo do sempre buscar mais informações e nunca se sentir satisfeito, acaba se constituindo em um ciclo vicioso, gerando mais ansiedade e causando um sentimento de impotência na pessoa.
Tudo isso diminui a capacidade de concentração e foco, prejudica a fixação e apreensão das informações e, por conseqüência, o seu aprendizado.
Se a pessoa não tem conhecimento destes fatos, certamente seu nível de ansiedade vai aumentar e o estresse negativo (distress) vai começar a se instalar, gerando distúrbios ruins como insônia, indecisão, humor alterado, irritabilidade, podendo até chegar a desvios e comportamentos neuróticos.
Para piorar, esta pessoa acaba se sentindo obsoleta e ultrapassada, sentimentos que poderão levá-la à depressão.
Talvez isto explique porque os consultórios de psicólogos e psiquiatras são cada vez mais frequentados, a venda de antidepressivos aumenta a cada ano e jovens começam a ter seu primeiro infarto cardíaco na faixa de 30 a 35 anos de idade.
Muitas delas acabam “rolando montanha abaixo”, criam resistências às inovações e às mudanças, tornam-se mais lentas, mais desmotivadas, mais pessimistas com relação ao seu futuro e se julgam impossibilitadas de sonhar e alcançar outros objetivos.
Não mal comparando, em vez de “coisas”, estas pessoas se tornaram “robôs”, pessoas sem identidade pessoal, obrigadas a fazer mais coisas em espaços de tempo cada vez mais curtos, o que as deixa infelizes, desmotivadas, tendo que trabalhar para receber um salário que lhes garanta a sobrevivência, apesar de terem seus “cérebros” muito bem valorizados.
Trabalho intelectual. Cérebro-de-obra. Pessoas viram “robôs”.
Essa constante evolução tem mostrado a necessidade de transformações pessoais e organizacionais e que irão caracterizar a quinta era do trabalho, a era da sabedoria.
Corporações “inteligentes” já comprovaram que um bom ambiente de trabalho é fundamental para gerar produtividade para a empresa e felicidade para aqueles que ali trabalham.
Muitas ações que contribuem para a diminuição do estresse e dos sentimentos acima relatado tem tido plena aceitação como horário flexível, trabalhar em casa (home office), meritocracia, bônus extras, participação nos lucros, apenas para citar algumas.
Em poucas palavras: as empresas começam a perceber que o trabalho realizado está muito além de mãos e cérebros e se apercebem que quem ali trabalha são Seres Humanos, ou seja, seres portadores de corpo, mente e espírito e não apenas “pessoas-coisas” ou “pessoas-robôs”.
Na era da sabedoria, cada Ser Humano dentro de uma empresa, será reconhecido por ter um EU que o torna um Ser único, individual, indivisível, daí indivíduo. Um Ser que carrega consigo seu DNA (único), suas crenças, princípios e valores.
Cada empresa desta nova era, além de gerir SHIs (Seres Humanos Integrais), aprenderá a lidar com a “diversidade de pensamento”, como afirma Christiana C. Martins. Este conceito se traduz, segundo a autora, pela “conscientização e o respeito pelas diferenças pessoais, considerando as atitudes, crenças, experiências, tradições e formas para a resolução de problemas”.
Do ponto de vista da empresa, o respeito à diversidade traz muitas vantagens, tais como entender melhor os mercados onde atua (vantagem competitiva), maior facilidade em se comunicar com seus stakeholders e tornar mais eficaz a força de trabalho através de maior diversidade de ideias que gerarão melhores resultados.
Tudo isso pode produzir nos colaboradores fatores de motivação externa que os tornarão mais felizes, fazendo com que permaneçam na empresa por mais tempo desenvolvendo suas atividades.
Para o lado pessoal, cada indivíduo acabará por aumentar, a cada dia, o seu autoconhecimento. Cada vez mais ele procurará por ter uma qualidade de vida integral, através do desenvolvimento do equilíbrio entre suas oito áreas: física, emocional, intelectual, profissional, financeira, lazer, relacionamentos (inclusive a família) e espiritual.
Este Ser da era da sabedoria será muito mais paciente e menos impulsivo; mais participativo e menos omisso; mais assertivo e menos “em cima do  muro”; sairá da cultura do TER (materialismo, status) para a cultura do SER (autoconhecimento, equilíbrio); deixará de ser “dono da verdade” (arrogância) para ser mais humilde (“só sei que nada sei”, frase de Sócrates)… Enfim, as mudanças da era da sabedoria levarão as pessoas à uma nova consciência que as tornarão bem melhores, mesmo convivenso com o desenvolvimento de novas trecnologias e com volumes cada vez maiores de informação e conhecimento. A vantagem é que elas saberão como usar o conhecimento e aprenderão a viver COM máquinas e não COMO máquinas.
Além disso, este SHI terá a noção de que cada dia é diferente do outro, assim como ele também é diferente a cada dia que passa. Isto amplia sua consciência a respeito de si mesmo, o que acarretará maior respeito às diferenças, sejam elas culturais, raciais, sexuais, religiosas, etc. Ou, como afirma Gabriel, o pensador: “seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo”.
No trabalho desta era (e não mais emprego formal), as pessoas serão mais proteanas, isto é, suas carreiras tem como objetivo principal o sucesso psicológico e não mais o sucesso financeiro,.
E isto porque irão trabalhar seguindo sua vocação, gostando do que fazem e fazendo o que gostam; trabalho que lhes tragam sentido em fazê-lo, praticá-lo e desenvolvê-lo, e, acima de tudo, prazer e felicidade. Seguirão o famoso dito de Confúcio: “faça algo que lhe dá prazer e não terá que trabalhar por um único dia em sua vida”.
Não existirá mais a pessoa certa, na hora certa e no lugar certo. Mas a pessoa certa, na hora certa, no lugar certo e com a razão certa, como afirma Robert Wong.
As pessoas desenvolverão suas atividades de forma integral, empregando suas mãos (corpo), seu cérebro (mente) e seu coração (alma, espírito), chegando finalmente à essência da quinta era: o coração-de-obra.

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