No final de março, aconteceu mais uma edição do Fórum Mundial de Sustentabilidade, que novamente reuniu em Manaus líderes globais do tema. Nessa mesma época, no ano passado, escrevi um artigo sobre a edição anterior do evento. Parece que foi ontem. E a Rio 92? Já se foram 20 anos! O tempo voa mesmo, mas será que foi a falta de tempo que não tirou do papel alguns dos temas importantes discutidos naquela época? Vinte anos não foram suficientes para que ambientalistas, governantes e seus países chegassem a um consenso e, mais importante do que isso, à execução de medidas mais efetivas em prol do clima, meio ambiente e sociedade – enfim, do futuro do planeta.
Protagonistas dessa discussão debateram em Manaus o que está sendo feito e por que muita coisa não se transformou em prática. Entre os temas mais importantes, claro, estava a Rio + 20, que acontecerá em junho na cidade do Rio de Janeiro. A grande pergunta que ficou no ar em Manaus foi a eficácia de reuniões grandiosas como essa, que colocam em pauta temas tão complexos que por vezes inviabilizam a tomada de decisão imediata, o que torna o processo moroso demais.
Morosidade não combina com a rapidez com que a população mundial cresce e utiliza os bens renováveis da natureza para garantir seu sustento imediato.
Mesmo com tantos entraves e interesses contrários, o Brasil foi apontado como destaque pela ex-primeira ministra da Noruega, Gro Brundtland. Segundo ela, muita coisa mudou por aqui desde a sua primeira visita ao país, em 1985, quando a cidade de Cubatão (SP) tinha a pior condição de poluição mundial. Hoje esse quadro se transformou radicalmente.
Parece um pequeno exemplo entre desafios tão enormes, mas não é. A ativista ressaltou ainda que houve uma mudança considerável no uso de energia e nos padrões de eficiência energética e que esse pode ser um grande tema para a Rio + 20. Gro acredita na importância dessas reuniões de cúpula. Ela reconhece que o documento inicial do que será discutido é ainda fraco, mas crê que ganhe força com a presença de representantes de todo o mundo e que o resultado final seja muito positivo.
Ela desmistifica muito bem a questão da sustentabilidade versus o crescimento. É categórica ao afirmar que não há caminhos alternativos: países ricos devem auxiliar os países em desenvolvimento para que todos busquem a melhoria na utilização dos recursos naturais. Estamos todos do mesmo lado. Ela lamenta, no entanto, que as empresas tenham utilizado a palavra sustentabilidade de forma leviana e contribuído para que a sensação de que nada está sendo feito fosse ainda maior do que a realidade.
Ainda mais pragmático, o coordenador executivo da Conferência das Nações Unidas sobre Sustentabilidade, Brice Lolano, acredita na importância da Rio + 20, mas afirma que a hora é de decisão, e não de planos e compromissos.
A grande aposta da conferência, segundo ele, são os encontros que antecederão o evento e que levarão para as plenárias recomendações da sociedade civil.
Se transportássemos essa problemática para dentro das nossas empresas, poderíamos perceber que todas as decisões percorrem mais ou menos o mesmo caminho até serem realmente definidas. Ao esperarmos pelo outro, seja ele o governo, o mercado ou a concorrência, o tempo passa, e nada é de fato concretizado. Fico muito contente, pois, assim como Gro Brundtland, tenho visto várias pequenas e médias empresas realizando e dando exemplos de que tudo pode ser transformado. São iniciativas para a redução de emissão de gases de efeito estufa, utilização de energia verde, redução de lixo, inclusão social, educação e muitas outras disciplinas que contribuem para o desenvolvimento sustentável da nossa sociedade. Que venham a Rio + 20 e, com ela, muita coragem para darmos firmes e importantes passos.
*Claudio Tieghi é presidente da Associação Franquia Sustentável (Afras) e diretor de responsabilidade social do grupo Multi Holding
Fonte: http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI302174-17141,00-O+TEMPO+VOA+E+O+PLANETA+NAO+PODE+ESPERAR.html
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